[Resenha] Sunrunner – Sacred Arts of Navigation

Sunrunner – Sacred Arts of Navigation
(FastBall – importado)

Material gentilmente enviado por Som do Darma

Por Clovis Roman

O Sunrunner é uma banda americana de Porland, Maine, fundada em 2008 e que tem em Sacred Arts of Navigation o quinto álbum de estúdio, sendo ele o segundo com o vocalista brasileiro Bruno Neves. Completam a formação os gringos Joe Martignetti (guitarra e voz), David Joy (baixo e voz) e Ted MacInnes (bateria e voz).

Se no anterior, Ancient Arts of Survival, eles abusaram do lance progressivo da coisa, com faixas extensas e repletas de variações, aqui o material é mais editado. Se lá as faixas tinham média de nove minutos de duração, aqui as canções rondam os cinco e meio. Se é melhor ou pior, não sei; o que é certo é que o Sunrunner entregou outro petardo de grande qualidade. Sobre esta mudança de abordagem sobre a extensão das canções, explica o guitarrista Joe Martignetti: “Quase sempre quando escrevo uma música, ela fica com sete minutos. Tenho dificuldade em escrever músicas mais curtas. Estamos tentando condensar as partes. Ainda há tantos riffs quanto as músicas mais antigas, ainda há várias partes e mudanças. Gosto de desafios e sinto que não há necessidade de sempre ter músicas tão longas, especialmente quando você monta um setlist e só consegue colocar seis músicas porque cada uma delas é muito longa. As músicas do novo álbum ainda são mais longas do que as músicas típicas de três ou quatro minutos. Então, sim, as músicas são mais curtas, mais concisas e mais diretas, mas ainda contêm muitas mudanças. E claro, ainda há uma música épica de doze minutos”.

Se o álbum anterior versava sobre a antiga arte da sobrevivência, aqui o tema é a aventura, como evidência o título (bastante similar do CD pregresso, aliás). As aberturas, “The Launch” e “Promisse of Gold” poderiam ser apenas uma música. Em todo caso, esta segunda põe as cartas na mesa, mostrando a gama sonora do Sunrunner. Momentos épicos e outros acessíveis captam a atenção imediatamente e instigam. Sobre a temática geral, Martignetti adiciona: “A aventura é um grande tema. Por isso que escolhemos a vibe verão, oceânica, na capa do álbum. Mas ainda há o tema das habilidades de sobrevivência e de viver com a Terra durante um tempo de tecnologia futurista e tudo mais”. Sobre a canção de abertura, o músico dá um panorama geral: “Essa é mais sobre uma aventura pessoal, deixando, de certa forma, o passado para trás. O personagem está realmente navegando para longe do passado ou apenas seguindo em sua mente?”.

Trazendo mais peso, “Faraway Worlds” aplica riffs lentos e uma aura sabbatica impressionante. O caos segue em passos lentos e ruidosos rumo a outros mundos distantes. Algumas partes são mais próximas do heavy, entretanto, o clima soturno domina a canção, ainda mais pelos vocais rústicos. Em “Invisible Demon of Ideology” os papéis se invertem, pois há passagens arrastadas, porém a agressividade metálica e velocidade predominam, se aproximando do speed metal lá pra parte final. Liricamente, traz algo mais político para a mesa: “Extremistas de qualquer lado podem justificar seus julgamentos quando acreditam que seu caminho é o único. Achar que só você está certo não é apenas hipócrita para o seu pensamento de que você tem a mente aberta, mas também leva a apenas um resultado. Guerra”, explica Joe.

Sunrunner com o produtor Marcus Jidell durante gravações de Sacred Arts Of Survival (foto: acervo pessoal).

Mais acessível, “Where’s My Home” conta com arranjos mais brandos e linhas vocais bastante melódicas e memoráveis – e conta com os vocais de apoio do grande Marcus Jidell (Evergrey, Avatarium, Royal Hunt, entre outros). Ele, inclusive, é o produtor do álbum, o que não é pouca coisa, afinal, o cara vem produzindo os últimos trabalhos do Candlemass, por exemplo. Voltando à canção, se ela não tivesse mais de cinco minutos, pareceria ter sido feita para ser single. Seja como for, é uma composição brilhante, de efeito perene no ouvinte. Um interlúdio que foge daquele esquema meio filler, “Acadia Morning Ride” é uma instrumental suave, baseada no violão e que, em seus quatro minutos, leva o ouvinte a uma breve viagem para fora de órbita. Se durasse dez minutos seria igualmente prazerosa. Para acordar na base do tapa, “Obstacle Illusion” chega a lembrar o Death em seus momentos iniciais, para depois se converter em um heavy metal melódico embebido em Helloween. Pra quem gosta dessa toada, é um prato cheio.

A ótima produção e sonoridade geral do disco, obra de Jidell, é comentada por Martignetti: “Eu amo o disco do Candlemass que ele fez, o The Door to Doom. Eu também amo o The Doomsday Kingdom e o Avatarium. Já ouviu o disco solo dele, Pictures of a Time Traveller? Uau! Por favor, ouçam, trabalho de guitarra incrível. De qualquer forma, enviamos a ele algumas faixas nossas e ele se interessou. Levamos ele aos EUA, para o estado do Maine, onde moramos. Ele gravou o álbum na ‘Acadia Recording’, com Todd Hutchissen, que trabalha conosco, e com uma pequena ajuda do meu irmão, Jim. Ele mixou em casa, na Suécia. E aí está. Ótimo rapaz! Profissional e divertido de se trabalhar”.

Sunrunner ao vivo em Waltrop, Alemanha. (foto: Susi dos Santos).

Crescendo sem pressa e baseada totalmente no heavy metal dos anos 1980 (há partes que vão na veia do Saxon, simplesmente apaixonantes), “Dragonship” é mais uma instrumental de respeito. Se a anterior era calcada no violão, aqui o negócio é baseado nos instrumentos elétricos e bateria. Um deleite. Sem contar que Jidell participa aqui também, agora fazendo um solo de slide guitar. Outra quebra na energia vem com “Last Night in Tulum”, que a qualquer momento parece que vai se tornar “Hotel California”. Um som leve e com percussão, é uma ótima canção que, mesmo abaixo das anteriores, mantém a qualidade do material. Em tempo: Tulum é uma cidade mexicana, próxima a Cancún. A letra fala sobre um amor de uma noite apenas em meio a um belo cenário e embebido em drinks dos mais diversos. Assim interpretei a letra, todavia, Martignetti adiciona: “Escrevi sobre me apaixonar em uma terra exótica por uma linda garota. Infelizmente, esta será a última noite para o personagem neste lugar. A pessoa nunca mais vai vê-la. É uma música romântica doce e amarga. Acontece em Tulum, México, a propósito. É maravilhoso se apaixonar nesse cenário exótico e romântico, mas triste que será a única noite”.

A penúltima faixa, por sua vez, fala sobre aproveitar a vida e encarar aventuras sem medo, tema ao qual o guitarrista complementa: “Foi escrito sobre superar obstáculos e permanecer positivo. É um pouco mais sobre diversão, tentando não ser tão sério o tempo todo. Quando você sente que tudo está uma porcaria, isso pode ser apenas uma pista do universo para seguir em frente. No contexto da música, existem diferentes exemplos, mas, essencialmente: saia da sua zona de conforto, seja aventureiro. Quando você supera obstáculos e olha para a bagunça em que estava, bem, essa bagunça te ajudou a encontrar alguma magia no mundo. Sem bagunça, sem mágica. Outra anedota do Frank [Navarro]”. O músico faz questão de frisar que estes seus comentários são em linhas gerais, permitindo que o ouvinte interprete as letras – assim como eu mesmo fiz – a sua maneira: “Mas tudo o que estou dizendo aqui sobre essas músicas são ideias gerais. Há mais detalhes nas letras. Não quero explicar tudo, também está escrito para você ter suas próprias ideias e experiências”.

Musicalmente, “No Mess, No Magic” é outro número bastante pesado e com linhas vocais marcantes. Fechando o CD (embalado em um belo digipack com encarte adjacente), a épica “Navigating the Apocalypse”, cuja descrição deixo para lá, como maneira de instigar o leitor. Se o que você leu até aqui te interessou, certamente esta – a única faixa gigante do disco – vai lhe satisfazer.

Músicas

  1. The Launch
  2. Promise Of Gold
  3. Faraway Worlds
  4. Invisible Demon Of Ideology
  5. Where Is My Home
  6. Acadia Morning Ride
  7. Obstacle Illusion
  8. Dragonship
  9. Last Night In Tulum
  10. No Mess, No Magic
  11. Navigating The Apocalypse

Conheça mais:
Site: www.sunrunnermusic.com

Foto de capa: Divulgação

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