[Resenha] Septicflesh – Modern Primitive

Septicflesh – Modern Primitive
(Shinigami Records / nacional)

Material gentilmente enviado por Shinigami Records

Por Clovis Roman

Quando pensamos em metal na Grécia, há dois nomes que vem imediatamente à cabeça de quase todo headbanger. O Rotting Christ e o Septicflesh. Esta segunda é uma das mais espetaculares formações musicais da atualidade, estando na ativa por mais de três décadas, sempre lançando materiais de extrema qualidade. Tudo o que ouvimos anteriormente parece ter atingido um novo nível de musicalidade e agressividade com Modern Primitive, que encanta logo com seu título antagônico, pela belíssima arte da capa (na linha dos antecessores Codex Omega (2017) e Titan (2014) e pela embalagem primorosa da edição nacional, pela Shinigami Records, conhecida por colocar no mercado produtos de altíssimo nível.

Décimo primeiro disco do Septicflesh, Modern Primitive é uma obra de profundidade acachapante, um amálgama de ódio, peso, velocidade e melodia, com bem servidas doses de melodia quando necessário, utilizadas de maneira que de maneira alguma interferem no nível de agressividade do trabalho. Este é um álbum diferente dos anteriores em vários sentidos. Primeiro por expandir ainda mais a sonoridade agressiva e melódica ao mesmo tempo, resultando em uma obra praticamente inquestionável. Outro fator foi o processo de gravação e escrita das letras, processos impactados diretamente pela pandemia.

Antes de mergulhar em Modern Primitive, considere as palavras do guitarrista Sotiris Vayenas sobre este processo, concedidas à mim em entrevista exclusiva: “Logo que começamos as gravações do àlbum, a pandemia aconteceu, e tivemos que adiar e esperar.Gravamos as partes principais na Grécia, os elementos sinfônicos em Praga e fizemos a bateria na Suécia. Haviam diferentes restrições nos países e foi um inferno. Tivemos que esperar por um momento em que tudo pudesse ser feito corretamente, pois não queríamos comprometer nenhum elemento. Isso tudo influenciou no álbum, pois este disco foi criado durante um longo período de tempo, e tivemos muito tempo para ouvir as gravações e tentar diferentes soluções, explorar diferentes experimentações nas composições. Também impactou nas letras, pois uma grande parte do álbum é orientado à face da humanidade agora, temos muitas questões e fortes emoções e ideias incorporadas às canções. Foi uma situação completamente diferente em relação aos álbuns anteriores”.

Peso brutal e agonizantes partes lentas celebradas com odiosos vocais guturais marcam “The Collector”. Melodias surgem em momentos estratégicos, sem comprometer a raiva transbordante da faixa, que se espelhará no restante da audição deste CD. Com a imersão completa logo ao fim da primeira faixa, surge como um colosso macabro a espetacular “Hierophant” vagarosa e letal como uma facada em câmera lenta. O único pecado desta faixa é não ser maior.

Com breves inserções de vozes limpas (elemento perigoso neste cenário) e algumas orquestrações étnicas, “Self-Eater” mantém a mesma pegada geral. Sobre a incursão destes elementos, Vayenas adiciona: “Incorporamos instrumentos e elementos étnicos, algo não muito usado anteriormente no Septicflesh, não nesta magnitude. Há fortes elementos ritualísticos neste disco, então as músicas são mais focadas em estados de espírito específicos, eu acho que esta é uma abordagem sólida. O ouvinte, da primeira à última música, se mantém focado naqueles específicos sentimentos”.

Pura maldição, “Neuromancer” tem riffs pesados e partes mais tribais ou (ver instrumentos no créditos). “Coming Storm” é quase um hino à insanidade, com melodias desvairadas e outras de pura brutalidade. Uma leve fagulha surge nesta faixa, que logo se converte em labaredas em “A Desert Throne”, embebiba em melodias e orquestrações grandiosas. O refrão é tão absurdo que o resto da música deixa o ouvinte com obtusa (!!!!!!!?) ansiedade. Rodou umas 4x seguidas aqui até eu conseguir seguir para a canção seguinte.

A faixa-título é outro momento glorioso e épico, com orquestrações soberbas, apesar do irritante vocal limpo no refrão. Não estraga a música, mas fica a sensação de que poderia ter sido interpretado de maneira diferente, menos anasalada. Apostando em outro caminho para exalar brutalidade, “Psychohistory” conta com riffs mais na pegada thrash/industrial do Fear Factory (inclusive, há uma breve passagem em que dá pra jurar que vai entrar “Fuel Injected Suicide Machine”), com um resultado pra lá de satisfatório. Também mais “alternativa”, porém ainda grandiosa e transbordando fúria, “A Dreadful Muse” ainda oferece melodias funestas que deixariam o Paradise Lost orgulhoso.

A edição nacional ainda conta com três primorosas faixas bônus, que fazem valer ainda mais a aquisição deste CD estupendo, são elas: “Salvation”, “The 14th Part” e uma versão orquestrada de “Coming Storm”. A primeira é basicamente uma versão de “Hierophant” com as orquestrações, sem a parte metal; assim como “The 14th Part” é “The Collector” sem grunhidos e riffs de guitarra. A terceira e derradeira, claro, tem título auto-explicativo.

O álbum tem apenas nove faixas (em menos de 40 minutos), todas elas tensas mas diretas, macabras mas envolventes. A magistral capa fica relegada a um belíssimo adorno. O uso de corais e instrumentos étnicos, sempre certeiros, são primorosos. Obra primordial.

Compre o CD: https://www.lojashinigamirecords.com.br/p-9490277-Septicflesh—Modern-Primitive-DIGIPACK-c_-INLAY

Músicas:

  1. The Collector
  2. Hierophant
  3. Self-Eater
  4. Neuromancer
  5. Coming Storm
  6. A Desert Throne
  7. Modern Primitives
  8. Psychohistory
  9. A Dreadful Muse
  10. Salvation [Bonus]
  11. The 14th Part [Bonus]
  12. Coming Storm (Orchestral Version] [Bonus]

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