[Cobertura] Helloween e Hammerfall: Heavy Metal e diversão em shows lotados na capital paulista

Helloween e Hammerfall
09 de outubro de 2022
Espaço Unimed
São Paulo/SP

por Kenia Cordeiro
Fotos: Pati Patah/Mercury Concerts

Reunir Hammerfall e Helloween na mesma noite foi uma das coisas mais geniais que passaram pelo Brasil nos últimos tempos. Duas bandas em momentos brilhantes da carreira retornaram para apresentações memoráveis. Depois de passarem por Ribeirão Preto, a dupla metálica aportou em São Paulo. No sábado (08), a casa lotou totalmente, e no domingo (09) estava também bastante cheia. Foi esta apresentação que tivemos a oportunidade de cobrir.

O Hammerfall – há cinco anos sem vir ao Brasil – abriu a noite às 18h30 com muita classe e heavy metal. Os shows da banda sempre foram ótimos – os acompanho ao vivo há vinte anos – e estão ainda melhores atualmente. Os protagonistas da noite foram os membros mais antigos Joacim Cans (vocalista) e Oscar Dronjak (guitarrista), que tiveram performances brilhantes. Cans, no geral, cantou muito e de maneira homogênea, diminuindo alguns tons estratégicos. A abertura veio com “Brotherhood”, do novo disco Hammer of Dawn, com cara de clássico. Seguida dela, “Any Means Necessary”, que eles vêm tocando desde que a faixa saiu no disco No Sacrifice, No Victory (2009).

Depois de duas músicas mais recentes, a jurássica “The Metal Age”, longe de ser a melhor representante do debut Glory to The Brave, deu as caras e funcionou bem. Claro que uma “Stone Cold”, “Steel Meets Steel”, “Hammerfall” ou a ultra-melódica “The Dragon Lies Bleeding” teriam sido mais efetivas, mas… para que reclamar?

Um álbum raramente elencado entre os melhores da banda pelos fãs, Crimson Thunder teve cinco músicas no repertório, sendo quatro delas em um medley mágico, além da arrasa-quarteirão “Hearts on Fire”, que encerrou o set. No referido medley, trouxeram pérolas inacreditáveis como “On the Edge of Honour” e a frenética “Hero’s Return”, ambas apenas com trechos instrumentais, além das incontestáveis “Riders of the Storm” e “Crimson Thunder”, que tiveram parte dos versos e refrões entoados por Cans e pelo público. Se você não gosta tanto deste álbum, recomendo revisitá-lo, pois ele transborda metal e melodias com a mesma classe dos anteriores.

Hammerfall (foto: Pati Patah).

A faixa-título do mais recente disco, “Hammer of Dawn”, e seu refrão irresistível se nivelou a clássicos atemporais como “Blood Bound” (que entrou no lugar de “Renegade”, tocada no sábado, 08) e – representando o antológico Legacy of Kings (1998) – “Let the Hammer Fall”, daquelas canções que são a epítome de um estilo, no caso, o heavy metal. Nada poderia ser mais puro.

O palco, com um belo pano de fundo e iluminação brilhante, deu um toque extra de qualidade ao poderoso repertório. Alguns vocais de apoio contaram com o apoio do VS, que dispara sons previamente gravados. O recurso, utilizado com sabedoria, apenas lapida e dá mais qualidade ao concerto, e aqui, definitivamente, foi este o caso.

A saideira veio com “Hearts on Fire”, uma furiosa e melódica ode ao heavy metal, na qual Cans se deu ao luxo de deixar de cantar alguns versos, pois os fãs fizeram isto por ele. Faltaram muitas, muitas músicas. Daria para fazer outro setlist, com onze canções diferentes e mesmo assim ser composto apenas de clássicos. Todavia, a questão é: enquanto esteve no palco, o martelo do Hammerfall reluziu cegando os infiéis a ponto desses queimarem no chão.

Ver o Hammerfall novamente aqueceu os corações metálicos, afinal de contas, os anos passaram, mas a qualidade jamais deixou de estar com o grupo sueco (no máximo, tirou rápidas férias). Falando em Suécia, valeu a homenagem ao país com a singela “We Make (Sweden Rock)”, cuja letra merece menção: ela é formada por frases que referenciam letras e títulos de músicas de outras bandas da mesma nacionalidade; chega a emocionar quando ouvimos versos como “Dying Illusion”, “Sign of the Times” ou “Far Beyond the Sun”, por exemplo. Show irrepreensível, inoxidável, memorável, inesquecível.

Músicas

Brotherhood
Any Means Necessary
The Metal Age
Hammer of Dawn
Renegade
Last Man Standing
Hero’s Return / On the Edge of Honour / Riders of the Storm / Crimson Thunder
Let the Hammer Fall
(We Make) Sweden Rock
Hammer High
Hearts on Fire

O Helloween retornava ao país após uma memorável turnê em 2019, que inclusive passou pelo Rock in Rio, onde tocaram pela primeira vez no Palco Mundo, o principal daquele festival. Como headliner, tem o poder de arrastar multidões. Não à toa, foram novamente agendadas duas apresentações na capital paulista, repetindo o feito em 2017.

Com um palco belíssimo, e um pouco mais simples que em turnês anteriores, o septeto inicia o antológico concerto com “Skyfall”, épico do mais recente álbum Helloween (2021), que coroou a volta do vocalista Michael Kiske e do guitarrista e também vocalista Kai Hansen após turnês de sucesso mundo afora desde 2017. O épico funcionou como fosse um dos antigos clássicos, e trouxe Kiske e o outro vocalista, Andi Deris, um em cada lado do palco, alternando suas partes harmoniosamente. Com o dedo de Hansen, a faixa tem momentos que remetem ao Gamma Ray, como aquele com os versos “Hey little alien, What have they done to you?, Are there survivors here, Or have they all just disappeared”. Uma banda veterana, com mais de 40 anos de atividades, ainda ser capaz de gravar pérolas como esta, é uma coisa rara.

Com direito a explosão de serpentinas logo em seus primeiros momentos, “Eagle Fly Free” foi a primeira dos Keepers a ser apresentada, com Kiske comandando os vocais e o baixista Markus Grosskopf brilhando em seu breve solo, mesmo estando posicionado ao fundo do palco (antes, ele costumava ficar a frente neste momento específico). Por sua vez, Deris cantou sozinho “Mass Pollution”, outra faixa recente e muito bem aceita pela plateia, que gritou alto o refrão. Provavelmente o hit mais amplo da carreira, no que tange a exposição ao grande público, “Power” foi um estrondo (e apreciar as linhas geniais de baixo de Grosskopf foi um deleite), tanto quanto “Future World”, que a antecedeu.

Helloween (foto: Pati Patah).

Viajando no tempo em direção aos primórdios discográficos do Helloween, Kai Hansen e companhia introduzem um medley iniciado por “Metal Invaders”, na qual ele atuou apenas como vocalista, assim como em “Victim of Fate”, quando na parte lenta finalmente pegou a guitarra para o solo. Emendaram na improvável “Gorgar” e depois, “Ride the Sky”. Estas preciosas gemas do catálogo do grupo alemão foram inacreditáveis, pois não são recorrentes no repertório deles. Soma-se a isto o fato de termos, na linha de frente, além de Hansen e Markus, o guitarrista e membro original Michael Weikath, completando assim a linha de frente original que gravou o EP Helloween e o debut Walls of Jericho (ambos de 1985), de onde vieram estas músicas. Após este generoso bloco, fecharam a parte nostálgica com “Heavy Metal (Is The Law)”, na íntegra, com Hansen se esgoelando, da melhor maneira que você puder imaginar.

A balada “Forever and One (Neverland)” trouxe todo mundo de volta a fase Deris, em um dueto deste com Kiske, no momento mais bonito da noite. Outra novidade foi “Best Time”, após um solo breve de Sascha Gerstner, que muitos ainda chamam de novo guitarrista, mas que está na formação há mais de vinte anos. Falando em material recente, se sábado tocaram “Save Us”, direto dos anos 1980, no domingo foi a vez de “Angels”, do álbum Helloween, com Kiske dando aula. A escolha pode ter parecido estranha, mas surtiu efeito: Na saída da casa, comentários elogiosos sobre a canção e inclusive alguns mais emotivos cantando alguns versos na rua, mostram que ela mostrou a que veio. Com o protagonismo de Deris, “Dr. Stein” trouxe ilustrações bizarras no telão, algo que aconteceu durante vários momentos do extenso show e citação ao Judas Priest nos últimos acordes.

Outro épico, “How Many Tears” teve Deris e Kiske novamente se revezando nas vozes, com performances absurdas. Com Kiske ao seu lado, Deris canta de maneira ainda mais efetiva que outrora, quando comandava sozinho os vocais do grupo alemão (tarefa que desempenhou com maestria entre 1994 e 2016). Nesta, Hansen ainda meteu um trechinho de “Heading for Tomorrow”, colosso do disco de estreia do Gamma Ray (que saiu pouco depois dele ter saído do Helloween no final dos anos 1980). Emocionou.

Com a capa do single servindo de referência, “Perfect Gentleman” abriu o primeiro encore com um ar despojado e Deris com cartola, como o protagonista da hilária letra. Na sequência, o bom humor veio com outra abordagem em “Keeper of the Seven Keys” e seus portentosos treze minutos de duração. Encontrar palavras para descrever a perfeição desta composição, ampliada quando executada ao vivo, torna-se tarefa quase impossível. Aqueles fãs mais ardorosos, que sabem a letra e cantam junto, estavam em um êxtase desvairado, claro que num clima muito amigável e pra cima. O encerramento da faixa, estendendo sua duração original, veio com dedilhados no qual serviram de apoio para que fosse entoada a melodia final em coro pela plateia e para a apresentação dos integrantes.

Como uma bomba atômica, “I Want Out”, single radiofônico e ultra melódico que impressionou nos 1980, mostrou que não perdeu uma vírgula de sua força mesmo após quase 35 anos de seu lançamento. O clima no palco, descontraído e de honesta amizade, refletiu em todos os fãs presentes. O clima foi quase mágico. Entre os músicos, sorrisos, brincadeiras e piadocas o tempo todo, mostrando que eles realmente desfrutam dessas duas horas que passam em cima dos palcos mundo afora.

Presenciar esta verdadeira aula de heavy metal é daqueles momentos que fazem valer a pena passar por tantos perrengues na vida pessoal e na sociedade em geral. Nessas três horas de música proporcionadas por Hammerfall e Helloween, entramos em um universo próprio e único, que seria o ideal em um “Future World”. Por enquanto, uma utopia a longo prazo. Porém, uma realidade efêmera que gerou memórias para serem guardadas no coração para todo o sempre.

Músicas

Skyfall
Eagle Fly Free
Mass Pollution
Future World
Power
Angels
Metal Invaders / Victim of Fate / Gorgar / Ride the Sky
Heavy Metal (Is the Law)
Forever and One (Neverland)
Best Time
Dr. Stein
How Many Tears
Perfect Gentleman
Keeper of the Seven Keys
I Want Out

Galeria de fotos:

Fotos: Pati Patah/Mercury Concerts

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