Arch Enemy + Behemoth
15 de novembro de 2022
Tork N’ Roll
Curitiba/PR
Por Clovis Roman e Kenia Cordeiro
Dois dos principais nomes do metal extremo da atualidade estão juntos na estrada há meses, em uma turnê que passou por Estados Unidos e Europa, e chegou ao Brasil em novembro, para sete apresentações conjuntas. As bandas revezaram as posições a cada noite, e em Curitiba, o Behemoth tocou primeiro. Curiosamente, ambas estavam a aproximadamente oito anos sem se apresentar na cidade (o Behemoth havia passado por Curitiba em novembro de 2014 e o Arch Enemy, em fevereiro de 2015). Ambas estiveram pela segunda vez na capital paranaense.
A qualidade de som estava ótima, permitindo captar todas as nuances musicais, elemento este mesclado com a iluminação de cada banda. A casa cheia comprovou o status de cada um dos grupos. O Behemoth iniciou às 20h15, com “Post-God Nirvana” no PA do Tork N’ Roll, com um clima taciturno imediatamente instaurado apenas pela presença dos músicos em cima do palco. A macabra “Ora Pro Nobis Lucifer”, do álbum The Satanist – aclamado pelos fãs e considerado uma das melhores obras dos poloneses – ditou aos presentes o que eles presenciaram pela próxima hora: death/black metal blasfemo, com melodias tétricas, passagens velozes em profusão e guturais vindos diretamente das profundezas do inferno. As novas “The Deathless Sun” e “Thy Becoming Eternal” soaram grandiosas, a primeira como um hino satânico, e a segunda como a trilha sonora do apocalipse, com suas partes alucinadas transitando livremente.
Entre as mais antigas, “Ov Fire and Void” (Evangelion, 2009) brilhou com seu andamento moderado, assim como sua colega de CD, a ultraveloz “Daimonos”. Por sua vez, “Conquer All” foi antecedida por uma pequena e divertida gafe de Nergal, que afirmou ser aquela a primeira vez da banda em Curitiba, algo que o público prontamente refutou. Desconcertado, o frontman do Behemoth desconversou e então anunciou a referida canção, oriunda de Demigod (2004), o melhor disco deles, para este que vos escreve (quiçá, empatado com Zos Kia Cultus (Here and Beyond), de 2002). Vale citar que “Conquer All” tem um de seus riffs certamente “inspirados” por “Be All, End All”, do Anthrax.
Em outra faixa nova, “Versvs Christvs”, Nergal retornou ao palco com vestes especiais e entoou os primeiros versos de microfone em punho, algo que se repetiu em outros momentos da canção. Falando em indumentárias, durante a espetacular “Bartazabel”, Nergal usou uma mitra (aquele chapéu do Papa) repleta de serpentes e cruzes invertidas com Cristo crucificado, remetendo a capa do último CD, Opvs Contra Natvram. A camiseta oficial da turnê seguia na mesma linha, e esgotou rapidamente.
Rumando ao um tanto precoce final, apresentam “Chant for Eschaton 2000”, na qual o baixista Orion desceu no pit para dar um alô pra galera. Ao final, Nergal agradeceu efusivamente aos fãs, com juras de amor e tudo, para logo na sequência, soltar um “hail Satan” e deixar o palco. Devastador.
Repertório – Behemoth
Ora Pro Nobis Lucifer
The Deathless Sun
Ov Fire and the Void
Thy Becoming Eternal
Conquer All
Daimonos
Bartzabel
Off to War!
No Sympathy for Fools
Blow Your Trumpets Gabriel
Versvs Christvs
Chant for Eschaton 2000
Divulgando o bom disco Deceivers, o Arch Enemy segurou a bronca após a devastação proporcionada pelo Behemoth. O quinteto focou o repertório no álbum mais recente, fazendo um apanhado não muito diversificado pelo resto de sua discografia.
Dos onze álbuns de estúdio lançados desde 1996, apenas seis foram contemplados esta noite, considerando Deceivers, que teve seis músicas apresentadas. Da fase com a ex-vocalista Angela Gossow, atual empresária do grupo, apenas Wages of Sin e Doomsday Machine deram as caras, com duas canções cada. E da época originária, da trinca inicial com o vocalista Johan Liiva, praticamente nada, apenas uma breve citação. Logo chegaremos lá.
Nos últimos anos, o Arch Enemy abraçou o heavy metal de vez, apesar de manter o bom gosto nos arranjos e certa agressividade (permeada principalmente pelos vocais de Alissa White-Gluz). Algumas faixas são mais potentes, como “Deceiver, Deceiver”, que abriu o set, porém, do outro lado, “Handshake with Hell” é bastante amena, anos-luz daquele Arch Enemy que surgiu das cinzas do Carcass nos anos 1990. Não é melhor ou pior. Foi apenas uma mudança de abordagem bastante radical.
O repertório focou na atual fase, com Alissa, fazendo com que até mesmo Wages of Sin, estrondoso sucesso que marcou o início da era Angela (lançado em 2001), tenha sido pouco lembrado: apenas “Ravenous” e a curtinha instrumental “Snow Bound”. Daquela época, o disco Doomsday Machine nos brindou com o excelente single “Nemesis” e a modorrenta “My Apocalypse” – neste mesmo álbum, qualquer outra música é melhor que ela.
Em “Sunset Over the Empire”, outra nova, rolou uma pausa no meio para puxar aqueles “ô ô ô ô” da galera. Após um bloco menos agitado, com esta e “The Watcher”, a excelente “As the Pages Burn” foi uma bicuda na cara, e retomou a energia da plateia em dose tripla. A já citada “Nemesis” foi a saideira da noite, antecipando o “outro”.
Os fãs das antigas (ou seja, dos anos 1990) tiveram que se contentar com o riff principal de “Fields of Desolation” usado como mero outro no fim do show. E só. Obviamente, todo mundo que compareceu ao Tork N’ Roll sabia que o Arch Enemy não está mais tocando material jurássico, e esta noite não foi diferente. Não há certo ou errado. O fato é que o grupo se consolidou como um gigante do estilo justamente por apostar nesta mudança de abordagem musical, polindo até mesmo em demasia seu som para algo mais comercial. Deu certo para eles. Para os saudosistas, resta ouvir os CDs antigos ou torcer para o Black Earth faça alguns shows por aí (este é um projeto paralelo dos caras com o vocalista original, Liiva, que fez algumas apresentações por aí e lançou um registro ao vivo apenas com músicas daquela década).
Repertório – Arch Enemy
Deceiver, Deceiver
War Eternal
Ravenous
In the Eye of the Storm
House of Mirrors
My Apocalypse
The Watcher
The Eagle Flies Alone
Handshake With Hell
Sunset Over the Empire
As the Pages Burn
Snow Bound
Nemesis
Fields of Desolation
























Um comentário em “[Cobertura] Arch Enemy e Behemoth: Dois gigantes do metal extremo em Curitiba”