[Cobertura] Epica: A essência do metal sinfônico

Epica
20 de novembro de 2022
Ópera de Arame
Curitiba/PR

por Clovis Roman e Kenia Cordeiro

Após alguns adiamentos devido à pandemia, finalmente o público brasileiro pode conferir mais uma passagem do Epica pelo Brasil, uma das bandas mais importantes do symphonic metal da atualidade. O grupo tem duas décadas de estrada, oito álbuns de estúdio e segue numa impressionante crescente criativa, que culminou no soberbo Omega, lançado no ano passado.

Mesmo sendo Omega o tema central da turnê, teve apenas três representantes em um setlist com 14 músicas: primeiro, logo na abertura, a contagiante “Abyss of Time – Countdown to Singularity”, com sua introdução enérgica, seguida de partes orquestradas, outras velozes e um refrão sublime. Melhor opção para iniciar um concerto. Mais a frente, vieram na sequência a belíssima balada “Rivers”, o momento mais emocional da noite, e “Code of Life”, inspirada por melodias orientais em meio a um belíssimo arranjo.

Falando em inspiração, “Rivers” conta com referências musicais bem distantes do metal, apesar do resultado ter agradado bastante os fãs. A melodia inicial ao piano é bastante similar a “I Hate This Part”, do grupo pop Pussycat Dolls. A diferença é que a versão dos metaleiros é mais lenta. As melodias do vocal, por sua vez,  aludem diretamente a “Impossible”, hit da cantora de R&B/pop Shontelle. Os caminhos desta canção já cruzaram com o metal em momento anterior: em 2017, ela foi regravada pelo grupo Exit Eden, no álbum Rhapsodies in Black, formado por músicas pop com roupagem metal. Curiosamente, uma das cantoras que participa do tal CD é justamente Simone Simons; todavia, ela canta em outra faixa: “Skyfall”, tema do filme homônimo da franquia 007,  interpretado originalmente por Adele.

Um momento engraçado da noite aconteceu justamente nesta balada, quando alguns fãs mais exaltados gritavam coisas como “I love you”. A vocalista fez um “xiu”, em claro tom de brincadeira; porém certamente querendo que os fãs ficassem quietos de fato. Em sons mais suaves, o silêncio é fundamental para que todos possam apreciar a composição da maneira devida. Em todo caso, não foi algo tão incômodo assim, e a apresentação seguiu sem maiores percalços. Outra situação cômica aconteceu quando Simone começou a anunciar “The Final Lullaby”. A banda iniciou a execução da música enquanto ela ainda estava falando, deixando-a um pouco desconcertada. Como o clima era ótimo, a situação causou apenas algumas risadas e nada mais. Esta canção integra o recém lançado EP The Alchemy Project – que consiste em faixas com participações especiais em cada uma delas, agregando novas possibilidades musicais – e é a menos melhor delas. Todavia, funcionou bem ao vivo.

Repassando músicas de praticamente todos os seus álbuns – apenas Requiem for the Indifferent ficou de fora – resgataram pérolas como “The Obsessive Devotion”, “The Essence of Silence”, “Illusive Consensus”, “Kingdom of Heaven” e “In All Conscience”. Um dos grandes destaques de um repertório brilhante foi “Victims of Contingency”, com uma das mais belas melodias já criadas pelo grupo.

O bloco final trouxe quatro obras grandiosas, épicas, nababescas. Primeiro, “Design Your Universe”, um tema com cerca de dez minutos, rico em camadas, sensações e andamentos admiráveis. O guitarrista e líder do grupo, o simpático Mark Jansen, a anunciou como uma de suas favoritas da banda. Durante sua execução, os músicos se movimentam de maneira coordenada, interagindo entre si e com os fãs, demonstrando uma sincera satisfação em estarem em cima do palco. Essa relação sinérgica não aconteceu apenas aqui, mas durante todo o setlist. A movimentação incessante permite aos fãs poderem ter uma boa visualização de seus ídolos de qualquer canto da casa. Inclusive, vale frisar como a visão é excelente em qualquer canto da Opera de Arame. Une-se a isto o fato do som estar excelente e a pontualidade do show, o que tornaram a experiência do público ainda melhor.

Seguindo com o bloco de obras-primas, a mais recente “Beyond the Matrix”, que une peso (há riffs soberbos aqui e acolá) a corais operísticos, resultando em uma canção inesquecível e bastante forte ao vivo. Antiga, “Cry for the Moon” ainda é a canção mais marcante na discografia do Epica, cujos versos “Forever, and ever” grudam instantaneamente na cabeça para nunca mais sair. Em determinado momento do refrão, dois fãs seguravam cartazes com estes versos, e Simone os pegou e fez uma rápida encenação segurando-os, antes de devolvê-los. Simpatia pura. Ainda houve tempo de um alucinado solo de bateria de Ariën van Weesenbeek, visivelmente empolgado ao brutalizar no pedal duplo. Encerrou de fato o concerto outra canção extensa: “Consign to Oblivion”, que reúne os mesmos elementos de suas predecessoras.  

A única diferença em relação ao repertório apresentado em São Paulo na noite anterior, foi a inserção de “The Obsessive Devotion” no lugar de “The Skeleton Key”, um dos destaques do álbum Omega. Em todo caso, mais um espetáculo primoroso do Epica em terras brasileiras.

Repertório:
Abyss of Time – Countdown to Singularity
The Essence of Silence
Victims of Contingency
Illusive Consensus
The Final Lullaby
Kingdom of Heaven
The Skeleton Key
In All Conscience
Rivers
Code of Life
Design Your Universe
Cry for the Moon
Beyond the Matrix
Consign to Oblivion

Confira as fotos de Clovis Roman:

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