Hypocrisy + Samael
11 de dezembro de 2022
Audio
São Paulo/SP
Por Clovis Roman
Uma turnê reunindo dois gigantes do death/black metal para encerrar foi uma excelente ideia. Uma pena que, o público, quiçá dividido por tantas opções de shows na grande São Paulo, acabou não aderindo tanto quanto essas duas bandas mereciam. Com os trabalhos começando cedo, por ser um domingo, às 17h30 o Carniçal subiu ao palco com a missão de fazer o número de abertura, quando muitos ainda nem haviam entrado na casa.
Foram cinco músicas pouco dignas de registro, em menos de meia hora no palco, com uma postura debochada e músicas ruins, além de pouca técnica e intimidade com os instrumentos. O trio foi esquecido no exato instante que saiu do palco, com um deles falando algo como “Esse foi o Carniçal. Foda-se”. Exatamente.

Hypocrisy
Pela terceira vez no Brasil, o Hypocrisy iniciou às 18h30 com “Worship”, com sua intro tensa e apoteótica desaguando em uma pancada de primeira, uma das três faixas do álbum de mesmo nome, que engloba todos os elementos musicais explorados pelo Hypocrisy neste mais de três décadas. Formato similar aparece em “Children of the Grey”, outra composição imponente, assim como o single “Chemical Whore” e sua letra sobre a ganância e dominação da indústria farmacêutica.
Do álbum Virus, a poderosa “Warpath” (antecedida por um coro de “Hypocrisy, Hypocrisy” por parte dos fãs), trouxe melodia e caos, com um solo de guitarra que remete ao melhor feito por Chuck Schuldiner com o Death. Canções mais simples e diretas, dos anos 1990, como “Mind Corruption” e “Inferior Devoties”, já davam indícios do caminho que o grupo seguiria nos trabalhos subsequentes.

Mesmo sendo a turnê do Worship, todos os doze álbuns anteriores foram relembrados no extenso setlist, com destaque para Hypocrisy (1999) e o esplendoroso The Final Chapter (1997), com duas cada: a pomposa “Fractured Milleniun” (na qual Peter Tägtgren instigou a galera a entoar o refrão, ficando no vácuo, pois poucos sabiam cantá-lo), as irmãs “Until the End” e a apocalíptica “The Final Chapter”, e “Adjusting the Sun”, respectivamente. A estrutura do repertório permitiu uma caminhada sem ordem definida por todos os discos da banda, satisfazendo fãs das fases mais antigas e também das mais recentes, na qual a melodia e refrães ganchudos se tornaram protagonistas.
Tägtgren veio acompanhado de Tomas Elofsson (guitarra), Henrik Axelsson (bateria) e Sebastian Svalland (guitarrista do Pain), para o lugar de Mikael Hedlund, baixista original que ficou de fora da turnê sul-americana por questões pessoais. O time executou com maestria cada uma das músicas, com uma postura de palco gélida e pouco comunicativa. Ninguém, todavia, exigia outra coisa. De frente a colossos como “Don’t Judge Me” (do controverso Catch 22, criticado pela produção precária, o que levou o grupo, anos depois, a regravar, remasterizar e remixar a obra), “Impotent God”, a acessível “Eraser” e “Weed out the Weak”, restava ao público mergulhar na sonoridade caótica do Hypocrisy. O encerramento, claro, foi com “Roswell 47”, que muitos conheceram com o videoclipe na MTV, nos anos 1990. Foram cerca de 80 minutos sem folga – a pausa para o encore durou menos de um minuto –, que proporcionaram um show sólido e agressivo.
Repertório
Worship
Fire in the Sky
Mind Corruption
Eraser
Inferior Devoties
Chemical Whore
Until the End
Don’t Judge Me
End of Disclosure
Weed Out the Weak
Children of the Gray
War-Path
The Final Chapter
Fractured Millennium
Impotent God
Adjusting the Sun
Roswell 47

Samael
Formado no final dos anos 1980, na Suiça, o Samael veio pela segunda vez ao Brasil. Liderado por Vorph (guitarra e voz) e seu irmão Xy (percussão e teclados), atualmente conta também com o baixista Ales Campanelli e o insano guitarrista Drop, que roubou a cena com sua presença de palco agitada. Apesar de terem iniciado com o rótulo do black metal, o grupo evoluiu para uma sonoridade mais industrial, criando algo único. Dessa forma, o setlist desta noite foi dividido em duas partes. A segunda, com músicas de todas as fases, e a primeira, com o clássico álbum Passage na íntegra. Assim, a enigmática “Rain” abriu a noite com força, apesar do som, que levou um tempo até acertar alguns detalhes. Partes climáticas e outras mais ásperas marcaram a canção, seguida por “Shining Kingdom”, mais melódica e depois, “Angel’s Decay”. O frontman Vorph cantou músicas como “The Ones Who Came Before” e “Moonskin” sem a guitarra, em uma postura que amplificou a teatralidade da apresentação. A comunicação com o público foi esparsa, porém, simpática. “Obrigado. A próxima canção é um pouco mais épica”, disse, em português mesmo, antes de anunciar “Born Under Saturn”.
O Samael passeou basicamente por todos os seus álbuns, ficando de fora apenas o Above (2009), que, na verdade, foi feito mais como um projeto paralelo que, no fim das contas, chegou às lojas com a logo do Samael. Os que queriam ouvir os materiais iniciais, da trinca antes do disco Passage, foi compensado no segundo bloco, com “Baphomet’s Throne” e “Son of Earth” (Ceremony of Opposites, 1994), “…Until the Chaos” (Blood Ritual, 1992) e a gélida e arrastada “Into the Pentagram”, do disco de estreia, Worship Him, de 1991. Também tivemos “Infra Galaxia”, outra que rolava na MTV nas antigas, apenas com a guitarra de Drop, com Vorph se concentrando nos vocais.

O trabalho mais recente, Hegemony, lançado no já distante ano de 2017, teve duas representantes: “Samael” e “Black Supremacy”, uma música fantástica, com um clima sufocante, partes velozes, versos ríspidos e um refrão grandioso, anunciada em português por Vorph: “Esta é a última canção desta noite. Essa é uma oportunidade de ficar completamente louco! Are you ready?”, disse, antes da resposta efusiva da galera. Ela não constava no setlist que estava no palco, sendo adicionada de última hora.
Ela, vinda pouco depois da supracitada “Into The Pentagram” – com “Slavocracy” (Solar Soul, 2007) – traçou aos ouvintes mais casuais toda a evolução e as características apresentadas, em maior ou menor escala, de acordo com a época, no decorrer de toda a obra do Samael. Em exatos noventa minutos, o Samael entregou uma experiência memorável aos fãs e àquelas que não conheciam tanto a banda.
Repertório
Rain
Shining Kingdom
Angel’s Decay
My Saviour
Jupiterian Vibe
The Ones Who Came Before
Liquid Soul Dimension
Moonskin
Born Under Saturn
Chosen Race
A Man in Your Head
Samael
Luxferre
Son of Earth
…Until the Chaos
Infra Galaxia
Reign of Light
Baphomet’s Throne
Into the Pentagram
Slavocracy
Black Supremacy
Galeria de fotos:



















