Sonata Arctica, FireWing
14 de março de 2023
John Bull
Florianópolis/SC
Por Clovis Roman e Kenia Cordeiro
Prevista para acontecer em 2020, a turnê do Sonata Arctica no Brasil acabou sendo adiada, devido a pandemia. Com isto, o que seria a divulgação do arrastado Talviyö (2019), acabou se tornando a celebração de 25 anos da banda. Uma das primeiras paradas dos finlandeses no Brasil foi realizada em Florianópolis, em show organizado pela conceituada Abstratti Produtora.
A abertura ficou com a FireWing, que surgiu em 2021 e logo jogou na mesa o disco de estreia, Resurrection. A banda tem como proposta musical trazer novos ares para o symphonic metal, unindo a técnica do heavy metal com orquestrações melódicas, em um álbum conceitual, apresentando um enredo fantasioso baseado na dualidade do eterno conflito entre luz e escuridão.
A temática densa casa completamente com a abordagem musical, que transita em vários terrenos com classe e maturidade. Um exemplo é “Demons of Society”, que emprega até mesmo blast-beats em algumas passagens, de uma maneira coesa. Estreando o novo vocalista Jota Fortinho (que passou pelo saudoso Before Eden), o grupo mostrou consonância técnica que normalmente é adquirida com anos de estrada. Nem parece que a formação sofreu profundas alterações desde o lançamento do CD.
O repertório trouxe faixas de Resurrection, e foi encerrado com “Last Gasp”, o novíssimo single baseado no metal melódico, com performance excelente de Jota, unido a precisão e velocidade do guitarrista Caio Kehyayan, atual live member do Vital Remains. A letra aborda o genocídio armênio, tema íntimo de Kehyayan, cuja ascendência em daquela região. O restante teve momentos exemplares como a apoteótica “Far in Time” e “Time Machine”, mesclando momentos delicados com outros intrincados. O show começou no horário (na verdade, até alguns minutos antes, exatamente às 19h46, e acabou exatos quarenta minutos mais tarde).
Só faltou uma comunicação mais assertiva com o público, pois as músicas foram tocadas uma atrás da outra, praticamente sem interações nos intervalos. Em todo caso, a galera apreciou e agitou bastante, e não é para menos, já que Resurrection é um disco excelente. E a nova “Last Gasp” mostrou que o próximo deve vir ainda mais refinado.
Músicas
Obscure Minds
Demons of Society
Far in Time
Time Machine
Eternity
Tales Of Ember & Vishap: How Deep Is Your Heart?
Tales Of Ember & Vishap: The Meaning Of Life
Last Gasp
Celebrando 25 anos de carreira, o Sonata Arctica entregou um repertório que passou por toda sua trajetória. Apenas uma do último disco, Talviyö, se fez presente, em meio a outras de discos intermediários e várias dos registros clássicos: nove das 14 músicas vieram dos cinco primeiros álbuns, um verdadeiro deleite. O grupo finlandês tem dez discos de inéditas, e nenhum deles ficou sem representantes esta noite.
A abertura veio com “The Wolves Die Young”, do Pariah’s Child(2014), que apesar de relativamente nova, já encontrou seu lugar nos setlists, esse disco, inclusive, já foi avaliado como um retorno aos primórdios da banda, entretanto, nos lançamentos seguintes, o Sonata resolveu voltar à pegada mais cadenciada que vem sendo desenvolvida desde o Unia (2007). A variada e emotiva “The Last Amazing Grays” se agiganta ainda mais ao vivo, a interpretação do vocalista Tony Kakko torna tudo ainda mais impactante, a forma como ele derrama os versos “in the eyes of every newborn, I see the future, life is just a phase” (aos olhos de casa recém-nascido eu vejo o futuro, a vida é apenas uma fase) nos faz questionar a finitude dessa existência e lembrar as diversas funções que a música tem em nossas vidas. Depois de explicarem que estão gravando um disco novo, a nova “Storm the Armada” foi outra que ganhou um espectro mais amplo, com o devido retorno dos fãs, que cantaram junto. Ela abriu caminho para a enérgica “Kingdom for a Heart” e seus teclados exuberantes, vinda do debut Ecliptica (1999).
O Sonata Arctica sempre foi bastante empolgado no palco, todavia, dessa vez a coisa parecia ainda mais enfática. O vocalista Tony Kakko roubou a cena, pois interagia com a galera toda hora, pulava, sorria e agitava. Chegou a falar de sua satisfação com o fim da pandemia e do retorno das apresentações. Com o guitarrista Elias Viljanen e o baixista Pasi Kauppinen mais estáticos e o tecladista Henrik “Henka” Klingenberg escondido no fundo do palco com cara de poucos amigos, as atenções se voltaram para Kakko e para o sorridente baterista Tommy Portimo, que transbordava alegria a cada batida. Inclusive, impressionante a precisão do músico nas viradas e na condução das canções (mesmo que tenha derrubado as baquetas algumas vezes, tamanha a empolgação). Básico e certeiro. “Paid in Full” e a cadenciada“Caleb” foram escolhas certeiras de Unia (2007), e nos levaram numa viagem ao tempo, 15 anos mais cedo, quando a turnê desse trabalho passou pelo Brasil, em 2008, e deixou boas recordações.
No decorrer do set, tivemos Kakko pedindo, com gestos, silêncio, para a introdução de “Sing in Silence”, do segundo álbum da banda, Silence (2001), considerado por muitos fãs um clássico da banda, ao lado do debut. Entretanto, mesmo que em estúdio a canção seja irretocável, nesse show em específico pareceu não funcionar muito bem, faltou a atmosfera do início que faz com que ela seja tão marcante no disco. Um pouco mais adiante, do mesmo álbum veio a famosíssima “Tallulah”. Kakko pergunta a idade dos presentes, e diz que muitos ali poderiam ter sido “feitos” no embalo da melodia melosa, por mais que a letra não seja, necessariamente, de um amor bem-sucedido. A obtusa “Closer to an Animal” e a radiante “Broken”, uma quase balada com melodias vocais grudentas, refrão memorável e letra melancólica, deram sequência. Esta abriu caminho para o bloco final, composto apenas por algumas das mais marcantes composições do Sonata Arctica. Parecendo ter sido feita na medida para a galera cantar junto, “I Have a Right” não pode, jamais, sair do setlist. Deixam o palco após “Fullmoon”, outro hit indispensável e muito aguardado pelo público que adora cantar os “run away run away, run away”.
Em um determinado momento, uma fã entregou uma moldura de presente ao vocalista, com uma foto que Kakko havia postado recentemente em seu story no Instagram, nada mais do que um cartaz com uma placa escrito “proibido cachorro na praia”. O músico adorou a brincadeira e mostrou a todos com um largo sorriso. O público até brincou com a situação durante o intervalo do encore cantando “Ô ô ô proibido cachorro na praia”, momento que gerou muitas risadas na volta da banda. Totalmente nonsense, portanto nada mais Sonata Arctica que isso. O retorno para o encore trouxe a speed “The Cage”, do jeito que o Sonata fazia muito bem no começo do milênio, e o fim foi decretado com “Don’t Say A Word”, igualmente explosiva. Ainda mandaram aquela canção boba intitulada “Vodka”, uma espécie de vinheta com ares russos, com Kakko fazendo aquela brincadeira de dividir o público entre lado esquerdo e direito. O clima festivo foi o cenário perfeito para a despedida dos músicos, que deixaram como legado um dos melhores shows que já fizeram em território brasileiro.
Em determinado momento, Kakko agradeceu aos fãs por manterem viva a música ao vivo. Considerando a presença maciça do público em plena terça-feira, podemos crer que ela sobreviverá por anos e anos.
Músicas
The Wolves Die Young
The Last Amazing Grays
Storm the Armada
Paid in Full
Sing in Silence
Kingdom for a Heart
Caleb
Closer to an Animal
Broken
I Have a Right
Tallulah
FullMoon
The Cage
Don’t Say a Word / Vodka
Galeria de fotos (por Clovis Roman):






















Preciso deixar registrada minha admiração pelo trabalho do Acesso Music. Você tem um trabalho extremamente cuidadoso com as resenhas, cada detalhe dos shows são acompanhados de informações relevantes sobre a história das bandas, álbuns, criação das músicas, ligação com o publico etc. Fica evidente que existe um grande trabalho de pesquisa e aprofundamento que diferencia o trabalho de vocês dos demais. Parabéns!
CurtirCurtido por 1 pessoa