[Resenha] Ahab – The Coral Tombs

Ahab – The Coral Tombs
(Shinigami Records/Nacional)

Por Clovis Roman

O Ahab é uma banda alemã de funeral doom metal, uma vertente ainda mais mórbida e arrastada de um gênero já sorumbático. Em quase duas décadas de carreira, chegam ao quinto álbum de estúdio com The Coral Tombs, que chega ao Brasil em uma parceria da Shinigami Records com a Napalm Records. O tema principal do grupo no que tange ao campo lírico é o alto mar. Não a toa, o próprio nome Ahab é oriundo do livro Moby Dick, além de seus álbuns anteriores terem inspiração em obras que tem as águas como pano de fundo.

Seguindo as diretrizes dos discos anteriores, o Ahab entrega com The Coral Tombs um doom metal com temática submarina. Nada melhor que ter como tópico central uma das obras mais brilhantes deste segmento: 20 Mil Léguas Submarinas, eterno clássico literário de Júlio Verne.

Para quem conhece a narrativa, um romance que conta sobre aventuras mar adentro, o título da faixa de abertura, “Prof. Arronax’ Descent Into The Vast Oceans” é auto-explicativo, e a letra segue abordando acontecimentos da obra. Musicalmente, a peça conta com partes diversas, que vão de momentos suaves com vocais limpos a trechos com a velocidade extrema e agoniante do black metal. Tudo vai e volta de uma maneira até mesmo meio frenética, como fosse um grande filme. Com o desdobrar da narrativa unida a audição, The Coral Tombs ganha ares de trilha sonora, com seu vasto espectro artístico envolvente e fascinante. A saideira, “The Maelstrom”, é outra que induz um sorriso involuntário aos que leram o livro, por se tratar de um momento crucial das últimas páginas do alfarrábio.

Presa no lamaçal lento de suas melodias, “Mobilis in Mobili” desperta desespero, sentimento que “The Sea as a Desert” faz a devida manutenção, a despeito de ser um pouco mais robusta. As vozes limpas remetem ao My Dying Bride antigo, o que, obviamente, é uma belíssima referência. A faixa-título conta com guturais cavernosos (ou sub-aquáticos, como queira), flertes com o jazz e chega a lembrar o Candlemass alternativo da segunda metade dos anos 1990. O maior épico entre sete deles, “Ægri Somnia” segue o clima instaurado, com urros e vozes limpas e lamuriosas, com melodias e andamento arrastado.

A formação do Ahab conta com Chris Hector (guitarra), Daniel Droste (guitarra, voz e teclados), ambos da formação original, além do baterista Cornelius Althammer, que atuou um tempo no Mystic Circle com a alcunha Dementum, e o baixista Stephan Wandernoth, que integra o grupo há quinze anos. A estabilidade é outro fator que reforça a potência de The Coral Tombs, pois os músicos trabalham em prol de algo com a experiência adquirida nesses anos todos.

Há participações especiais no álbum. Chris Noir, do Ultha, aparece logo nos primeiros segundos declamados, e na mesma faixa, surge Andreas Rosczyk, do Goblin Sound, estúdio onde este trabalho foi registrado. Mais a frente, Greg Chandler (do Esoteric) cuida do encerramento do disco.

Por mais que ainda seja pesado, é um trabalho que agrega outras perspectivas sonoras, todavia, sem se distanciar de maneira perigosa do que traçaram discograficamente até este momento. As músicas são bastante extensas, com mais de nove minutos de duração, em média. É um disco que demanda seguidas audições atentas e devotadas, pois não entrega música convencional. Em sete faixas, temos mais de uma hora de andamentos lentos e opressivos, experimentais e sem urgência, até certo ponto. A capa é fantástica e te insere em um universo fantástico antes mesmo de apertar o play.

Este quinto artefato do Ahab, em pouco menos de vinte anos de banda, é uma pérola que, graças a Shinigami Records, chega ao Brasil. Vá atrás deste trabalho, e de quebra, leia o livro. São dois deleites garantidos.

Compre o CD: https://www.lojashinigamirecords.com.br/p-9494412-AHAB—The-Coral-Tombs

Músicas

  1. Prof. Arronax’ Descent Into The Vast Oceans
  2. Colossus Of The Liquid Graves
  3. Mobilis In Mobili
  4. The Sea As A Desert
  5. A Coral Tomb
  6. Ægri Somnia
  7. The Mælstrom

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