Moonspell
08 de abril de 2023
Jokers Pub
Curitiba/PR
Por Clovis Roman e Kenia Cordeiro
Celebrando três décadas de carreira (considerando quando adotaram a alcunha atual, em 1992; antes, eram conhecidos por Morbid God), os gajos do Moonspell retornaram ao Brasil para uma extensa turnê de seis datas, com um repertório bastante especial. Para os atos de abertura, os chilneos do Weight of Emptiness e os paranaenses do Terrorsphere.
Terrorsphere
A abertura da noite ficou com a ótima londrinense Terrorsphere, que havia me chamado a atenção em 2016, quando recebi o EP Blood Path para resenha. O álbum de estreia, Spiritual Holocaust, veio em 2020, o qual me passou batido até pouco tempo antes do show. Me atualizei e notei como a banda evoluiu muito na construção das músicas e principalmente nos vocais, muito mais encorpados e naturais que outrora. Marcado para 19h30, infelizmente o grupo só subiu ao palco perto das 20h, o que resultou em um setlist bastante enxuto, de pouco mais de 20 minutos de duração.

Devido a configuração do palco para os números de abertura, algo comum em eventos com atrações internacionais, e considerando que o Jokers já é, por si só, um lugar mais lacônico no quesito espaço, os integrantes ficaram apertados na frente, com pouca movimentação. Neste caso, a música falou por eles. Foi um massacre curto e grosso, amplificado pela boa qualidade sonora que saia do sistema da casa. Músicas do álbum se fizeram presentes, até mesmo uma – “Assassinos” – do EP de estreia, Blood Path (2016), assim como uma canção inédita.
Repertório – Terrorsphere
The Scourge
Shadows of Atrocity
Falling Apart
Asssassinos
Forgotten Past
Weight of Emptiness
A intro “Mütrümtum (The Calling)” pintou o cenário geral, escancarado com “Defrosting”, abertura do recém lançado álbum dos chilenos, Withered Paradogma. A faixa mescla passagens climáticas, com momentos calcados no black e no death metal. Do mesmo trabalho, ainda tivemos “Wolves”, um dos destaques do trabalho, com vocais limpos bastante convincentes de Alejandro Ruiz, figura que chamou para si a atenção durante todo o curto set, por sua vestimenta e presença hipnotizante.

O tempo, assim como aconteceu com o Terrorsphere, jogou contra o grupo, que mesmo apresentando apenas cinco músicas, conseguiu transitar por todos seus três álbuns. Além das novas, estiveram presentes a áspera “Chucao”, do Conquering the Deep Cycle (2019); “Weight of Emptiness” e a imponente “Unbreakable”, do debut Anfractuous Moments for Redemption (2017). O tempo escasso os levou a cortar uma das músicas impressas no setlist, “The Flame”. Estar ao lado do Moonspell nessas seis datas por nosso país foi uma excelente maneira de apresentar o soberbo trabalho dos chilenos para um novo público. Que voltem como headliners um dia!
Repertório – Weight of Emptiness
Mütrümtum (The Calling) [intro]
Defrosting
Chucao
Wolves
Weight of Emptiness
Unbreakable
Moonspell
Os primeiros shows da turnê do Moonspell pera América Latina variaram entre 15 e 17 músicas, dependendo da noite. Foi botarem o pé no Brasil que a coisa melhorou ainda mais. Em Porto Alegre, foram apresentadas 18 músicas, quantidade repetida na segunda cidade brasileira visitada por eles. Se Na capital gaúcha o repertório foi sublime, em Curitiba ele foi lapidado ainda mais. As faixas do álbum 1755 vieram em uma sequência única. “Em Nome do Medo” (original do Alpha Noir e posteriormente regravada) abriu caminho para as tensas “In Tremor Dei” e “Todos os Santos”, em uma performance apoteótica dos portugueses; uma batida tribal sustentou Ribeiro, que bradou com cólera o verso “Todos os santos não chegaram”.

No meio do público, uma bandeira de Portugal foi erguida, logo nos primeiros acordes de “The Greater Good”, bastante climática e que serviu para, aos poucos, convidar os fãs para uma noite que todos desejávamos ser eterna. A quase heavy metal “Extinct”, hit do álbum homônimo, botou-nos em transe, assim como o clássico primitivo do Irreligious (1996), “Opium”. Do odiado Sin/Pecado, que abriu mão da aura gothic/doom para inserção de elementos eletrônicos, “Abysmo” (fantástica tanto em estúdio quanto ao vivo) fez o vocalista Fernando Ribeiro relembrar a primeira passagem deles pelo Brasil, no final dos anos 1990, quando tiveram medo de vir para cá devido a violência. Não podemos dizer que o temor era infundado.
Para sorte nossa, eles voltaram diversas vezes desde então, e agora, a proposta era celebra os trinta anos de carreira. Praticamente todos os discos foram revisitados, exceto Under Satanae (2007), um compilado de regravações de canções dos primórdios, e The Butterfly Effect, do qual realmente ninguém esperava ouvir algo de qualquer maneira. Estávamos no anseio de ouvir canções imortais como “Night Eternal”, “Finisterra” e “Vampiria” (dedicada aos vampiros e vampiras de Curitiba), desejos todos a nós concedidos. Entre as pérolas, a depressiva “In and Above Man” e a ríspida “From Lowering Skies” mostraram duas facetas do fantástico The Antidote (2004).

Outra preciosidade veio na forma de “Nocturna”, sorumbática e de refrão envolvente. Outro hit acessível marcou presença: “Breathe (Until We Are no More)”, antes de partirmos para o bloco 1755, citado acima, e da indispensável “Alma Mater”, que encerrou o repertório regular. Nessa, todos cantaram os versos em português: “Virando costas ao Mundo, Orgulhosamente sós, Glória Antiga, volta a nós!”. Em Curitiba, esta canção ganha um ar ainda mais especial, pois muita gente da cidade a conheceu pela versão que o Eternal Sorrow, ícone do doom metal nacional, apresentou por anos ao vivo. A bela “Scorpion Flower” foi interpretada sem vocais femininos, como costumeiro. Todos os músicos foram exímios, como esperado, e a performance do baterista Hugo Ribeiro mostrou que o mesmo foi uma escolha certeira para a vaga do excelente Mike Gaspar, que hoje se dedica ao ótimo Seventh Storm.

Tornando a noite ainda mais especial, fomos agraciados com a releitura de “Lanterna dos Afogados”, dos brasileiros d’Os Paralamas do Sucesso. A versão do Moonspell é mais brutal e sorumbática que a original, uma cover digna de verdadeiros gênios. A introdução arrastada e pesadíssima é de uma sensibilidade única. Havíamos sido agraciados com uma banda em noite inspirada, e para nos despedirmos mutuamente, fomos convidados a loucura da lua cheia: “Full Moon Madness”, outro lampejo de desespero da extensa discografia dos lusitanos.
Repertório – Moonspell
The Greater Good
Extinct
Opium
Night Eternal
Finisterra
In and Above Men
From Lowering Skies
Breathe (Until We Are No More)
Abysmo
Nocturna
Scorpion Flower
Em nome do medo
In tremor dei
Todos os santos
Vampiria
Alma Mater
Lanterna dos Afogados [Os Paralamas do Sucesso]
Full Moon Madness
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