[Cobertura] Bruce Dickinson rouba cena em concerto tributo ao lendário Jon Lord, do Deep Purple

Bruce Dickinson: Celebrating the Music of Jon Lord and Deep Purple
19 de abril de 2023
Teatro Positivo
Curitiba/PR

Por Clovis Roman
fotos por Pri Oliveira

O conceito do concerto é celebrar a obra de Jon Lord, todavia, apenas no Deep Purple. Nada de seus trabalhos solo ou mesmo do Whitesnake foram executadas, afinal de contas, o que a galera que lotou o Teatro Positivo queria ouvir era, justamente, a referida fase. Todavia, mesmo que a intenção fosse homenagear o lendário tecladista e compositor, falecido em 2012, o show acabou virando uma apresentação de Bruce Dickinson cantando Deep Purple.

Com ingressos esgotados bem antes da data, a expectativa era alta, tanto dos fãs mais assíduos quanto daqueles que fora mais pela grandiosidade do evento em si. O primeiro ato trouxe os três movimentos do Concerto for Group and Orchestra, gravado e lançado em 1969, com condução de Marlcolm Arnold. Esse mesmo concerto, trinta anos mais tarde, foi restaurado e revisitado novamente no Royal Albert Hall. As partituras originais, perdidas, foram literalmente reescritas por Marco de Goeij, que assistiu ao vídeo original zilhões de vezes até transcrever tudo. Na segunda vez,  a regência ficou a cargo de Paul Mann, o mesmo dessa noite em Curitiba.

Foto: Pri Oliveira

Antes, Bruce Dickinson surgiu ao público, sob ovação, e falou por mais de cinco minutos sobre a dinâmica do concerto, com toda a simpatia que transmite, ao menos, quando está em cima do palco. E ainda meteu uma propaganda da cervejaria curitibana que produz as cervejas do Iron Maiden atualmente. O cara é ligeiro demais.

O primeiro movimento é, basicamente, uma obra erudita, enquanto o segundo, mais coeso, traz alguns lampejos Rock and Roll, com as partes cantadas. A entrada de Bruce nesse momento não foi aplaudida, como uma mostra de respeito do público, que não interferiu na execução da intrincada obra. Não temos a plateia mais polida do mundo, mas nesse caso, os curitibanos foram bastante educados. Para apreciadores de música clássica, foram 53 minutos de elevação espiritual. Para quem não se conecta com essa pegada, foi um pequeno fardo a ser carregado.

Vale ressaltar que em 2012, uma versão de estúdio do Concerto foi lançada, tendo, entre outras lendas, o próprio Bruce Dickinson. Lord chegou a ouvir a versão final do trabalho, poucos dias antes de falecer. Abaixo, um trailer sobre a produção dessa obra.

O segundo ato girou a chave. O Rock se tornou o protagonista, mesmo que o início tenha vindo com duas belíssimas baladas. Ambas, do repertório solo de Bruce Dickinson, foram sublimes, tanto na interpretação do vocalista quanto pelo adendo da orquestra, formada por aproximadamente 70 músicos. O hit “Tears of the Dragon” teve seu refrão cantado por todos, enquanto “Jerusalem” foi apreciada em silêncio. A maioria, por não conhecê-la; a minoria, por querer apreciar cada segundo de uma execução magistral e da presença magnética de Dickinson.

Um arranjo orquestral foi usado como introdução para “Pictures of Home”, o que acabou encobrindo a lendária abertura de bateria da canção. A banda teve como destaque a baixista Tanya O’Callaghan, que há pouco entrou no Whitesnake, e o tecladista John O’Hara, do Jethro Tull. A guitarra de Kaitner Z Doka soou sem vida, com alguns erros de execução e um timbre pavoroso, durante toda a noite. Nada que tirasse muito a força de pérolas como a própria “Pictures of Home”, na qual Bruce impressionou com uma abordagem completamente diferente daquela que usa no Iron Maiden.

Foto: Pri Oliveira

Fã declarado de Ian Gillan, ele cantou de maneira mais sóbria, em tons médios, usando os agudos apenas em momentos chave (como logo após o verso “Sreaming out pictures of home”), assim como o vocalista do Deep Purple. Em muitos momentos, Bruce soou como fosse o próprio. Isso mostra, além da qualidade técnica dele como cantor, uma reverência genuína à obra e ao legado do Deep Purple. Claro que Dickinson não deixou de ser si mesmo, como quando em “Hush”, mandou o seu característico “Scream for Me Curitiba”. “When a Blind Man Cries”, divina no disco e no palco, e “Perfect Strangers” completaram o segundo ato.

Para o bis, “Smoke on the Water” e “Burn” viriam nessa ordem, invertida em comparação ao apresentado em São Paulo dias antes. Na atemporal “Smoke on the Water”, Bruce se divertiu com as batutas do maestro, correndo para lá e para cá durante praticamente toda a música. Nesse momento, o público, comportadamente sentado nas poltronas, se levantou e foi para a boca do palco. O clima descontraído seguiu-se com “Burn”, com Bruce se perdendo nos primeiros versos. Ninguém ligou. Esse texto, mesmo robusto, não exprime nem metade da experiência desse concerto tão icônico na história do Rock e da música como um todo. Uma noite única.

Repertório

Primeiro Ato
Concerto for Group and Orchestra, First Movement: Moderato – Allegro
Concerto for Group and Orchestra, Second Movement: Andante
Concerto for Group and Orchestra, Third Movement: Vivace – Presto

Segundo ato
Tears of the Dragon [Bruce Dickinson]
Jerusalem [Bruce Dickinson]
Pictures of Home [Deep Purple]
When a Blind Man Cries [Deep Purple]
Hush [Deep Purple]
Perfect Strangers [Deep Purple]
Burn [Deep Purple]
Smoke on the Water [Deep Purple]

Galeria de fotos – gentilmente cedidas por Pri Oliveira

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