[Cobertura] Grave Digger e Accept: Aula de heavy metal alemão em Curitiba

Grave Digger + Accept

27 de abril de 2023
Tork N’ Roll
Curitiba/PR

Por Clovis Roman

Um dos side shows do festival Summer Breeze reuniu dois gigantes do heavy metal alemão em solo curitibano. Na quinta-feira, 27 de abril, Grave Digger e Accept retornavam à cidade para mais um par de apresentações memoráveis. A casa recebeu um bom público, a despeito de ser dia da semana, e assim, estava configurada a festa da música pesada.

Chris Boltendahl, do Grave Digger (foto: Clovis Roman)

O Grave Digger ficou com a incumbência de abrir a noite, começando com sons mais recentes, como a boa “Lawbreaker” dando início, logo após a intro “The Siege of Akkon”. Construída nos padrões do que de melhor eles fizeram em sua carreira, a música funcionou demais, com ótimos riffs e melodias vocais pegajosas, que deságuam em um refrão irresistível. Do mais recente álbum, Symbol of Eternity, “Hell is my Purgatory” cumpriu bem seu papel. Por outro lado, “Tattooed Rider” (uma “Turbo Lover” de segunda categoria) e a tenebrosa “Dia de los Muertos” não funcionaram bem ao vivo, ecoando o que apresentam nos CDs dos quais vieram.

O show do Grave Digger é sempre um deleite, dos oito que vi, nunca saí insatisfeito. Mas há sim pontos discutíveis, que na maior parte das vezes, recaem sob o guitarrista Axel Ritt, que descaracteriza solos mágicos sem o menor pudor. O que ele faz com o solo de Excalibur deveria ser passível de prisão sem direito a fiança. Em 14 anos na banda, ele gravou sete álbuns de inéditas (mais um de regravações), e a parceria parece estar longe do fim. Sem querer soar saudosista, é impossível não constatar como Manni Schmidt ou Uwe Lullis (que logo subiria ao palco com o Accept) fazem falta.

Jens Becker, do Grave Digger (foto: Clovis Roman)

Mas como disse, mesmo com os contratempos, um show do Grave Digger é sempre uma celebração ao metal, e a segunda metade do setlist comprovou isto com folga. Do álbum The Grave Digger (2001), “The House” nos levou aos tempos áureos, e abriu espaço para uma sequência matadora. “Dark of the Sun” ergueu até defunto, assim como a brilhante “Highland Farewell” e a supracitada “Excalibur”, do esplendoroso álbum homônimo de 1999. Quando a coisa ia pegar fogo, acabou. Primeiro, o maior hit dos alemães, “Rebellion (The Clans Are Marching)” foi entoada em uníssono pelo público, e teve até um ‘solo’ de gaita de fole da mascote do grupo. Como ato de abertura, ficaram restritos a um repertório curto de onze faixas, encerrado pela nostálgica “Heavy Metal Breakdown”, a única dos anos 1980 presente, que exorcizou os demônios da galera. Ao final, poderíamos ir embora, afinal, a noite já tinha valido a pena.

O Grave Digger provou mais uma vez que sua influência no cenário do heavy metal é inabalável. Mesmo com um guitarrista cujo desempenho pode não atingir as expectativas e álbuns que talvez não sejam tão inspirados como em outros momentos, continuam continua entregando shows vibrantes de heavy metal. A capacidade de proporcionar performances intensas e apaixonadas é um testemunho da dedicação e paixão contagiante que a banda tem pelo gênero.

Repertório

Lawbreaker
Hell Is My Purgatory
Ballad of a Hangman
Dia de los Muertos
The House
The Dark of the Sun
Highland Farewell
Healed by Metal
Excalibur
Rebellion (The Clans Are Marching)
Heavy Metal Breakdown

Wolf Hoffmann, do Accept (foto: Clovis Roman)

Todavia, havia muito mais por vir. A Wolf Hoffmann’s Band, conhecida também como Accept, deu outra aula de heavy metal. A atual formação é bastante inchada, mas depois que a vemos ao vivo, entendemos a configuração que Wolf arquitetou para sua banda. É estranho termos três guitarristas, ainda mais quando notamos que Uwe Lulis fica, em sua maioria, restrito a um espaço ao fundo do palco. Mas a agressividade e precisão que ele mostrava no Grave Digger há mais de duas décadas encaixou como uma luva no Accept. Humilde, ele deixa Wolf e Philip Shouse brilharem como rockstars.

Inclusive, de início, entraram no palco como quinteto. No Chile, alguns dias antes, cobri o festival The Metal Fest, no qual eles se apresentaram. Lá, Shouse não tocou devido a uma infecção alimentar severa. Imaginei que ele estaria melhor para a data em Curitiba, porém, não foi bem o que aconteceu. Conversei com ele no Summer Breeze alguns dias depois, que contou que passou mal por dias, e que quando seus colegas subiram ao palco do Tork n Roll, ele estava terminando de tomar uma última injeção na veia, para conseguir fazer a apresentação. Deu certo, pois ele entrou na metade da segunda música, “Symphony of Pain”, do último disco, Too Mean to Die, assim como a abertura, a estupenda “Zombie Apocalypse”. O cara entregou tudo e mais um pouco, e poucos na plateia repararam que o cara estava mal.

Accept (foto: Clovis Roman)

O repertório trouxe um punhado de faixas do recente disco Too Mean to Die, com destaque para a supracitada “Zombie Apocalypse” e Symphony of Pain”; assim como teve um foco especial nos discos Blood of the Nations e Restless and Wild, ambos clássicos de épocas bastante distintas mas que tem algo em comum: ambos são brutalmente inspirados. Não a toa, em “Pandemic”, “Teutonic Terror”, “The Abyss” e na trinca oitentista “Fast as a Shark”, “Princess of the Dawn” e “Restless and Wild”, a empolgação coletiva ficou ainda maior. Também do Restless and Wild (1982), “Demon’s Night” abriu um medley glorioso, que ainda revisitou “Flash Rockin’ Man” (do mesmo LP), “Starlight” (Breaker, 1981) e “Losers and Winners” (Balls to the Wall, 1983). Com um vasto catálogo de clássicos, foi uma boa maneira de relembrar o maior número de faixas possível.

A performance de Mark Tornillo, vocalista do grupo há quase 15 anos, como sempre, foi soberba. O vocal esganiçado segue poderoso, mesmo que ele tenha dado uma segurada de leve em alguns sons, como ficou evidente em “Breaker”. A energia ficou praticamente todo o show – com exceção de “The Undertaker” – com petardos como “Metal Heart” e sua irmã “Shadow Soldiers”, “London Leatherboys” e até mesmo com “Objection Overruled”, única pérola dos anos 1990 no repertório essa noite. O encerramento com a dançante “I’m a Rebel” foi uma festa só, servindo de trilha sonora para a despedida de mais uma passagem avassaladora dos reis do heavy metal alemão. Que noite, meus amigos. Que noite!

Repertório

Zombie Apocalypse
Symphony of Pain
Restless and Wild
London Leatherboys
The Abyss
Objection Overruled
Overnight Sensation
Demon’s Night / Starlight / Losers and Winners / Flash Rockin’ Man
Breaker
The Undertaker
Shadow Soldiers
Princess of the Dawn
Fast as a Shark
Metal Heart
Teutonic Terror
Pandemic

Hung, Drawn and Quartered
Balls to the Wall
I’m a Rebel

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