[Cobertura] Skylab precisa mesmo continuar fazendo música?

Skylab
24 de junho de 2023
Basement Cultural
Curitiba/PR

Texto e fotos por Clovis Roman
Exceto foto especificada, gentilmente cedida por Cassiano Rosário (www.cassijones.com)

Há dois artistas brasileiros cujas obra, em linhas gerais, não são compreendidas pelo público de maneira ampla. Um deles é o Falcão (não aquele do O Rappa, cujo qual ninguém entende). O outro, é Rogério Skylab. Foco dessa resenha, este último é muito apreciado por um público mais jovem, que delira com os palavrões e versos estapafúrdios.

É uma visão limítrofe de uma obra tão rica. Mas é uma visão válida. Afinal, a presença dessa galera mais aleatória é crucial para a manutenção das vendas de ingressos, das turnês e da carreira de Skylab. Não que não tenha sido chato, em alguns momentos, presenciar os jovens rindo, como na quinta-série – de cada palavrão ou termo chulo. Como são muitos…

Foto: Clovis Roman

Ranzinzice a parte, a abertura veio com a busca de Skylab em “Cadê meu Pau?’, seguida por outra que busca partes do corpo, “Corpo e Membro sem Cabeça”, que menciona o dedo do Lula ou a perna de Lars Grael, complementadas pelo maravilhoso verso “Poesia é o caralho”. Dois caos sonoros assim, logo de cara, mostravam ao público a amplitude artística de Skylab. A galera, tal qual num show do O Rappa, não entendia nada, mas foda-se.

Do álbum Nas Portas do Cu, a modorrenta “Nas Canções de Amor” (título digno de Roberto Carlos) mudou o panorama, mostrando a destreza do artista em criar cenários e sensações com sua música – nessa, rolou uma longa sessão instrumental, dando protagonismo a parte instrumental da competente banda formada por Thiago Martins (guitarra), Yves Aworet (baixo) e Rodrigo Scofield (bateria). Nunca havia testemunhado eles ao vivo, então fiquei vidrado, a ponto de mal reparar o início da absurda “Carne Humana”, com seus versos econômicos e incômodos.

Em “O Corvo”, outra estendida, Skylab enfiou uma cenoura goela abaixo, e não há palavras para descrever. Veja e sinta:

Foto: Cassiano Rosário

A escolha do repertório contemplou boa parte da discografia, em geral, uma música de cada um dos vários – mas não todos – discos lançados até então. A performance é intensa, teatral, quase uma mescla palpável entre música, poesia, corpo e alma.

Após meia dúzia de canções, Skylab se dirige ao público: “Vocês acham que o show está acabando?”. De frente a resposta negativa, o artista complementa: “O show está começando agora”, causando excitação coletiva no público, que recebeu então, de braços abertos, “O Meu Pau Fica Duro”, um dos grandes hits do artista. Outros momentos de bizarrice, além da cenoura fálica, foi a chuva de cigarros em cima do cantor, em “Tem Cigarro Aí?”, ou a invasão do palco na saideira, “Você vai continuar fazendo música?”. Esperamos que, Skylab, ao menos, sim.

Foto: Clovis Roman

Impossível, todavia, não se emocionar (sim, por que não?) com “Fátima Bernardes Experiência” e seus versos dementes, “Música para Paralítico” ou “Matador de Passarinho”, alavancada nos anos 1990 pela entrevista de Skylab ao Jô Soares, e que ao vivo, ganha um refrão em ritmo reggae simplesmente genial, algo amplificado pela posição da canção no repertório.

O sucesso de público em Curitiba foi tamanho que houve duas sessões esta noite, no famigerado Basement Cultural. Eu presenciei e aqui relatei a primeira delas, iniciada às 22h. Um deleite hedônico repetido poucos minutos mais tarde.

Foto: Clovis Roman

Repertório:
Cadê meu Pau?
Corpo e Membro sem Cabeça
Nas Canções de Amor
Carne Humana
O Corvo
A Máquina Fantástica
O Meu Pau Fica Duro
A Dança dos Malucos
Polka
Tem Cigarro Aí?
Peida, peida, peida
Carrocinha de Cachorro Quente
Música para Paralítico
Homosexual [Os Cascavelletes]
Fátima Bernardes Experiência
Matador de Passarinho
Você Vai Continuar Fazendo Música?

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