21 de novembro de 2023
Ópera de Arame
Curitiba/PR
por Clovis Roman
Tendo como título de seu último álbum The God Machine, os alemães do Blind Guardian estiveram pela oitava vez ao Brasil (eles vêm para cá com certa regularidade, desde 1998), país este que, de acordo com o setlist.fm, é o quarto em que mais fizeram shows na carreira, com nada menos que 40 apresentações.O grupo tem álbuns questionados, porém, isto ficou em algum canto da terra-média, afinal, o mais recente disco se mostrou à altura dos grandes clássicos forjados, em sua maioria, nos anos 1990.

Depois de um show mágico no Summer Breeze, no qual tocaram o espetacular Somewhere Far Beyond na íntegra, o grupo retornou ao Brasil com a turnê do supracitado novo álbum, compartilhando conosco os segredos dos deuses germânicos forjados nessas quase quatro décadas de pura majestade. A despeito de ser o mote da turnê, The God Machine contou com apenas três representantes: a repleta de partes rápidas “Blood of the Elves”, a épica e pomposa “Secrets of the American Gods” (com uma ponte esplendorosa e um refrão ainda mais apoteótico) e “Violent Shadows”, quase um thrash metal em determinados momentos, que evidenciou ainda mais como Hansi Kürsch envelheceu como vinho – além da habilidade ímpar em dominar o público, está cantando demais. Seria formidável também ouvir “Deliver Us From Evil”, “Damnation” ou a mais densa “Let It Be No More”, mas não tinha o que tirar do restante do repertório.
Se há poucos meses, o foco foi Somewhere Far Beyond, agora, este disco ficou restrito ao clássico indispensável “The Bard’s Song – In the Forest”, cantada em uníssono, como sempre acontece quando os bardos tocam por aqui. Outro clássico supremo, “Valhalla” teve resultado similar, com direito a repetição quase infinita, em coro, pelos fãs, na reta final da composição. Tiveram maior destaque os atemporais Nightfall in Middle‐Earth e Tales From the Twilight World, mas, na medida do possível, o grupo nos brindou com um pouco de cada uma de suas fases, indo desde a jurássica “Majesty” até as menos antigas “Skalds and Shadows” (A Twist in the Myth, 2007) e “Sacred Worlds” (At the Edge of Time, 2011).

Falando em Hansi, simpático como sempre (seja no palco ou fora dele, vale a pena frisar), se comunicou diversas vezes com a plateia. Em determinado momento, relembrou a primeira vez deles em Curitiba, ainda nos anos 1990, que acabou não rolando. O vocalista explicou que teve uma intoxicação alimentar, e que os boatos de que ele estava bêbado não são verdadeiros. “Bom, não naquele dia, pelo menos”, concluiu, entre risadas. O público fez sua parte, recepcionando ruidosamente pérolas como “Nightfall” (não transcender com o refrão majestoso dessa canção é impossível), “Imaginations from the Other Side” e “A Script for my Requiem”, tanto que, depois dessa, Kürsch falou que nunca se acostumam com essa recepção calorosa – mesmo sendo costumeira.
Ao convidar a plateia para cantar “The Bard’s Song”, o barulho foi maior que de um gol em uma final de campeonato. Em outros momentos, a contemplação foi mais efetiva, como na rebuscada “Sacred Words” ou “Lord of the Rings”. Obras dignas de um Prêmio Nobel da Música,a emotiva ”Time Stands Still (At the Iron Hill)” e a alegre “Welcome to Dying” pavimenratam o caminho para o encerramento, com a óbvia e majestosa “Mirror Mirror”, na qual, mais uma vez, Hansi brilhou nesta “noite na ópera [de arame]”.
Repertório
Imaginations From the Other Side
Blood of the Elves
Nightfall
The Script for My Requiem
Violent Shadows
Skalds and Shadows
Blood Tears
Secrets of the American Gods
The Bard’s Song – In the Forest
Majesty
Traveler in Time
Sacred Worlds
Lord of the Rings
Time Stands Still (At the Iron Hill)
Valhalla
Welcome to Dying
Mirror Mirror
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