Jethro Tull
12 de abril de 2024
Teatro Positivo
Curitiba/PR
Por Clovis Roman
Na terceira passagem por Curitiba, o Jethro Tull mobilizou um numeroso público ao elegante e espaçoso Teatro Positivo, local de boa acústica, que valorizou a primordial delicadeza do som do conjunto liderado por Ian Anderson, que apresentou toda sua plenitude musical de forma mágica, como de costume.
A primeira vinda da banda a capital paranaense foi em 1990, em um show lendário no Círculo Militar. Em 2007, apresentaram outra performance brilhante, dessa vez no Teatro Guaíra. Mantendo a tradição de virem para cá a cada 17 anos, retornaram, trazendo um repertório bem diferente de outrora. Farei paralelos aqui com o show de 2007, que cobri, a época, para o finado portal Order News.
Tanto lá quanto cá, foram 17 músicas. Dessas, apenas três se repetiram: A peça clássica de Bach, “Bourrée” (a quarta música mais tocada em shows na história do grupo, de acordo com o setlist.fm), e os hits indispensáveis “Aqualung” e “Locomotive Breath”. Músicas de álbuns como Songs from the Wood, A Passion Play e até mesmo Thick as a Brick, ficaram de fora. Sem nenhuma obrigação de agradar ao público, Anderson passeou por seu legado como quis. A discografia e obra do Jethro Tull e Ian Anderson é um tesouro. A grande maioria, claro, curte dois ou três dos maiores hits, mas eles são apenas a ponta de um iceberg.
Do Crest of a Knave, veio a datada e maravilhosa “Farm on the Freeway”. Dos anos 1980, só ela. A corajosa “Mine is the Mountain” soou assombrosa e lamuriosa, mas embalada por belíssimas melodias e arranjos. Do mesmo álbum quela ela pertence, o recente The Zealot Gene, também fomos agraciados com “Mrs Tibbets”, mais acessível e outra preciosidade. Do último disco, RökFlöte, tanto a pesada “Wolf Unchained” quanto a instigante “The Navigators” ficaram em pé de igualdade com velharias intocáveis como “Heavy Horses” e o épico “Dark Ages”.

Após a triunfante abertura com a antiga “My Sunday Feeling”, Anderson se direciona ao público a primeira de várias vezes. Antes de anunciar “We Used to Know”, ele explica as similaridades dela com “Hotel California”, do grupo pop The Eagles, ressaltando que a sua composição saiu anos antes. A atemporal “Roots to Branches” se agigantou ao vivo, peso, melodia e refrão memorável a tornaram um dos melhores momentos do espetáculo.
“Aquadiddley”, que revisita momentos do álbum Aqualung, abriu espaço para a faixa que dá nome a esse mesmo disco, lançado em há 53 anos, em 1971. Claro que ela (mesmo que em uma versão diferente) e “Locomotive Breath” fecharam o repertório, e foram momentos de grande ovação. Mas o ponto dessa resenha é mostrar como a obra do Jethro Tull é sólida, mesmo com escorregões aqui e acolá.
Se você, assim como muitos, conhece meia dúzia de canções, vá fundo. E se sobrar tempo, confira a carreira solo de Ian Anderson. Afinal de contas, obras primas como Divinities: Twelve Dances with God (1995), The Secret Language of Birds (2000) e Rupi’s Dance (2003) não viram a luz do dia para passarem incólumes. São soberbos.
O público foi solicitado a não gravar o show com seus celulares, tampouco manuseá-los durante o set, exceto na última música, “Locomotive Breathe”, quando um aviso nos telões permitiu o acesso aos dispositivos digitais. Aliás, a proibição dos telefones gerou controvérsia. Com celulares na mão ou não, o público curitibano se mostrou apático, como de costume. Por sorte nossa, daqueles que vão a um concerto para absorver a arte proveniente do palco, o Jethro Tull, na área musical, foi irretocável, como destaquei durante todo este texto.
Repertório:
My Sunday Feeling
We Used to Know
Heavy Horses
Weathercock
Roots to Branches
Holly Herald
Wolf Unchained
Mine Is the Mountain
Bourrée
Farm on the Freeway
The Navigators
Warm Sporran
Mrs Tibbets
Dark Ages
Aquadiddley
Aqualung
Locomotive Breath
