[Cobertura] Rogério é viado, Skylab tem perna de pau

Rogério Skylab
22 de novembro de 2024
CWB Hall
Curitiba/PR

por Clovis Roman

Um dos artistas mais íntegros e homogêneos da música brasileira é Rogério Skylab. Lançou dezenas de discos, e sempre se manteve fiel ao conceito. Pode ter feito músicas ruins, assim como fez inúmeras músicas geniais. Mas Rogério sempre foi Skylab.

Após uma única visita a Curitiba em 2009, ele retornou à cidade em 2023, para sessão dupla lotada no Basement Cultural. Um ano depois, bateu cartão novamente na capital paranaense, agora em uma casa de maiores proporções. O som, todavia, estava com qualidade inferior, que levaram, inclusive, a reclamações do cantor e compositor após “Corpo sem pé, corpo sem cabeça”, sexta canção do repertório.

Rogério Skylab em Curitiba (foto: Clovis Roman).

O público presente, todavia, fez vista grossa. Ou quiçá, tampouco reparou. Me incomoda que Skylab atraia este público tão jovem, meio abilolado, que só quer rir das letras com palavrões. Se tivesse cantado “Dedo, língua, cu e boceta”, teriam que fazer um intervalo para a galera recuperar as forças. Mas eu já lamuriei sobre isto na resenha do show anterior, então vamos pra frente, para o que interessa: a música e o lirismo.

Rogério Skylab em Curitiba (foto: Clovis Roman).

Musicalmente, o show realmente instigou “a dança do corpo e dos membros”, pois ninguém estava incólume aos petardos disparados com uma raiva amigável, como as estonteantes “Cadê meu pau?”, “O meu pau fica duro” ou “Motosserra”, esta última, na segunda metade do repertório. Aqueles momentos aguardados por todos estiveram presentes. Em “O Corvo”, Skylab degusta uma cenoura, e após mastigá-la, cospe no pessoal das primeiras fileiras, que vibra, enquanto a banda faz uma cama sonora insana. Em “Tem cigarro aí?”, que durou dez minutos, uma chuva de cigarros no palco, em quantidade que manteria um fumante abastecido por um ano, pelo menos. E claro, a invasão da galera ao palco na saideira, “Você vai continuar fazendo música?”.

Da época do disco Skylab IV, “Chico Xavier & Roberto Carlos” não foi lançada oficialmente em CD, mas não deixou de se tornar uma das melhores faixas do artista, pelo clima caótico – elemento tão comum em sua obra – e pelo refrão grosseiro e pesado. Bom, pode ser grosseiro para os outros. Para mim, soa como uma poesia (ops, poesia é o caralho!) declamada sob orquestrações celestiais. Insanidade similar foi testemunhada em “Fátima Bernardes Experiência”, que merece o prêmio nobel da música, pela excentricidade genial. O refrão “Glóóóóriaaaa Mariiiaaaa” é um mantra.

Rogério Skylab em Curitiba (foto: Clovis Roman).

Empolgado, Skylab chegou a brincar que o show duraria até às 6 horas da manhã. Não foi para tanto, mas o extenso setlist agradou aos fãs mais variados, pois a maioria dos álbuns foram contemplados com ao menos uma música cada. A banda que o acompanha é digna de nota e menção, por traduzir em acordes e batidas a esdrúxula visão artística de Rogério Skylab. São eles: Thiago Martins (guitarra), Pedro Aune (baixo) e Rodrigo Scofield (bateria). Quem não gosta de Skylab, merece uma “Porrada na Cabeça”.

Repertório
1 – Aquela coisa toda
2 – Cadê meu pau?
3 – O meu pau fica duro
4 – A dança do corpo e dos membros
5 – Eu durmo pouco pra ficar com sono
6 – Corpo sem pé, corpo sem cabeça
7 – Qualquer um
8 – O corvo
9 – Eu não vou
10 – Vale de Perus
11 – Tem cigarro aí?
12 – As coisas que ficaram por dizer
13 – Cabecinha
14 – Empadinha de camarão
15 – Você é feia
16 – Chico Xavier & Roberto Carlos
17 – Motosserra
18 – Carrocinha de cachorro quente
19 – Porrada na cabeça
20 – Fátima Bernardes experiência
21 – Matador de passarinho
22 – Você vai continuar fazendo música?

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