Por Luís S. Bocatios
Após dez anos de sua última apresentação no Brasil, em 2015, o System of a Down está prestes a chegar ao país para uma série de cinco apresentações no Brasil. A primeira, em Curitiba, acontece na próxima terça-feira (6), no Estádio Couto Pereira. Em seguida, a banda segue para o Rio de Janeiro e faz um show no Estádio Nilton Santos dois dias depois, na quinta-feira (8). A turnê será encerrada com três shows em São Paulo: os dois primeiros, no Allianz Parque, acontecem no sábado (10) e no domingo (11); o último, marcado para o Autódromo de Interlagos, será na quarta-feira (14). Restam ingressos apenas para a última data.
Como aquecimento (e até uma forma de conter a ansiedade), preparamos uma lista com dez das melhores músicas que a banda lançou em sua curta, mas impecável discografia. Vale ressaltar que essa lista é inteiramente pessoal, não tem a menor pretensão de se imaginar como verdade absoluta, mas sim o objetivo de levantar um debate divertido pré-shows do SOAD no Brasil.
Suggestions (System of a Down, de 1998)
Como já discutido em nossa lista de dez melhores discos de estreia da história do metal, o autointitulado primeiro disco do System of a Down é um dos mais representativos de todos os tempos por apresentar uma banda diferente de tudo o que havia sido feito no gênero até então, ao mesmo tempo em que já tinha um domínio digno de veteranos sobre aquilo que buscavam explorar com sua sonoridade.
Além de clássicos como “Suite Pee” e “Sugar”, o disco ainda apresenta canções um pouco menos famosas cuja qualidade é incontestável, assim como a forma brilhante com a qual elas apresentam a sonoridade da banda. Uma delas é a espetacular “Suggestions”, cujos versos bem-humorados são contrapostos ao peso que toma conta da música ao final de cada estrofe, com uma performance volca brutal de Serj Tankian.
Spiders (System of a Down, de 1998)
Talvez a música do primeiro disco que mais combine conhecimento popular e aclamação dos fãs seja a brilhante “Spiders”. Sombria e pesada, a música discute a manipulação sob a qual a sociedade está submetida pelo governo, pela mídia e pelas grandes corporações.
Em termos de composição, “Spiders” é a primeira da linhagem de músicas brilhantes, pesadas e lentas da banda, que ainda contaria com “Aerials”, “Mr. Jack” e “Holy Mountains”. O riff de baixo da introdução é uma das melhores contribuições de Shavo Odadjian para a banda, e a música ainda conta com uma das performances mais brilhantes da carreira de Serj Tankian, que entrega absolutamente tudo em sua interpretação: peso, melancolia e emoção perfeitamente dosadas.
Peephole (System of a Down, de 1998)
A última música do primeiro disco a aparecer nessa lista é a brilhante Peephole, cuja letra fala sobre a experiência de estar entorpecido e os pontos positivos e negativos que isso pode gerar na mente de cada indivíduo.
Os versos da canção tem um ritmo que remete à valsa, que, contrapostos ao pesadíssimo refrão, fazem com que a música seja uma das músicas mais esquisitas de toda a carreira de uma das bandas mais esquisitas a chegar ao mainstream. Mais uma vez, a interpretação vocal de Tankian merece destaque e é um dos principais motivos pelo refrão ser tão arrebatador.
Forest (Toxicity, de 2001)
Escolher as melhores músicas de Toxicity é uma tarefa extremamente ingrata, tendo em vista que o disco é um dos melhores do século XXI e não tem absolutamente nenhum ponto baixo. “Forest”, no entanto, é uma das mais merecedoras de estar nessa lista.
Com uma letra ambientalista que alerta sobre os perigos de maltratar a natureza, além de um certo subtexto religioso, a música tem um dos riffs mais interessantes da carreira da banda, um refrão maravilhosamente grandioso e um dos trabalhos de bateria mais inspirados da carreira de John Dolmayan, que exibe toda sua influência de Neil Peart no uso da percussão no início da música e na forma como trabalha o ximbau nos versos.
ATWA (Toxicity, de 2001)
Logo na sequência de “Forest”, a lista de faixas de Toxicity tinha tudo para continuar na pegada ambientalista com “ATWA” — cujo acrônimo significa Air, Trees, Water, Animals (pt: ar, árvores, água, animais) —, mas, na verdade, a letra fala sobre o serial killer Charles Manson, que, nos anos 1960, liderava um grupo ambientalista chamado ATWA.
A sublime melodia tem um tom de melancolia latente nos versos, enquanto o explosivo refrão apresenta uma raiva brilhantemente interpretada por Tankian e pelo pesadíssimo instrumental, que faz com que a música tenha uma dinâmica incrivelmente interessante e bem resolvida.
Toxicity (Toxicity, de 2001)
A faixa-título do disco mais bem sucedido do System of a Down não é apenas uma das melhores de sua carreira, mas também uma das que melhor representa sua sonoridade. Entre tantos sucessos brilhantes, como “Aerials” e “Chop Suey”, a canção se destaca pelo contraponto entre os versos lindamente melódicos e o refrão explosivo, além do final grandioso e pesado que rende alguns dos mosh-pits mais insanos do mundo nas últimas décadas.
O baterista John Dolmayan merece um destaque extra, pois sua performance nessa música é uma das mais perfeitas de qualquer baterista no século XXI. A icônica virada na introdução já atingiu níveis míticos, se tornando uma espécie de equivalente metaleira à virada de “In the Air Tonight”, de Phil Collins, pois até pessoas que não gostam de System of a Down — ou sequer de metal — reconhecem a virada e tentam reproduzi-la com as famosas “air-drums” ao redor do mundo todo.
Chic n’ Stu (Steal This Album!, de 2002)
Após o tremendo sucesso de Toxicity, o System of a Down lançou Steal This Album!, que toma um caminho ainda menos comercial e mais trabalhado do que os antecessores. Hoje em dia, talvez seja o lançamento menos lembrado da banda — os únicos grandes sucessos são “I-E-A-I-A-I-O” e a balada “Roulette” —, mas a qualidade do disco é incontestável, o que pode ser comprovado por faixas como “Innervisions”, “Bubbles”, “Boom!”, “Ego Brain”, “Thetawaves” e “Streamline”.
A abertura do disco é absolutamente explosiva: “Chic n’ Stu” traz uma letra que, com o bom humor característico da banda, critica o consumismo e a forma como as agências de publicidade moldam os costumes da sociedade. Musicalmente, a canção é alucinante, uma das melhores da banda, e traz novamente um Serj Tankian possuído, interpretando as palavras com uma marca inconfundível.
Revenga (Mezmerize, de 2005)
O disco seguinte da banda, Mezmerize, é outro lotado de clássicos: “B.Y.O.B”, “Radio/Video”, “Cigaro” e “Lost in Hollywood” estão merecidamente entre as músicas mais famosas da banda. Dentre as menos conhecidas, merecem destaque a maluca “Old School Hollywood” e a soturna “Question!”. Mesmo assim, o principal destaque do disco é a terceira música: “Revenga” é puro System of a Down, apresentando momentos de pura explosão, andamentos esquisitos e melodias que remetem a escalas de música oriental.
Mas o principal motivo da canção estar nessa lista tem nome e sobrenome: John Dolmayan. O baterista entrega a performance mais surreal de sua carreira, apresentando uma rapidez inacreditável nas viradas que acontecem perto do começo da música com uma técnica genuinamente impressionante ao alternar entre o ximbau e o prato de condução no verso da música. Se alguém ainda não estivesse convencido que Dolmayan é um dos grandes bateristas a surgir no metal nas últimas décadas, essa dúvida certamente é sanada em “Revenga”.
Holy Mountains (Hypnotize, de 2005)
A mais recente representante da linhagem de “Spiders” e “Aerials” é “Holy Mountains”, faixa do último disco de estúdio da banda, lançado há longíquos vinte anos. A canção tem uma carga sombria e misteriosa como poucas outras na carreira do System of a Down, o que reflete o conteúdo pesado da letra, que fala sobre as “montanhas sagradas” nas quais, segundo a cultura armênia, descansam as almas das vítimas do genocídio que assolou o país entre os anos de 1915 e 1923.
A canção permanece frequente nos repertórios da banda, sempre tem uma performance ao vivo intensa e costuma se transformar em um dos grandes momentos dos shows do System of a Down.
Soldier Side (Hypnotize, de 2005)
O último disco da banda é encerrado por uma das canções mais complexas, melancólicas e brilhantes de sua carreira. Eles claramente sabiam disso: lançados com seis meses de diferença, Mezmerize e Hypnotize foram gravados ao mesmo tempo e não podem ser desassociados. A primeira música de Mezmerize, lançado em maio, é “Soldier Side – Intro”, que trazia voz e guitarra interpretando o refrão da música; a última música de Hypnotize, lançado em novembro, é a versão completa da canção.
Com uma letra escrita durante o auge da Guerra do Iraque que fala sobre o horror que os soldados passam durante a guerra, a música carrega um tom mórbido e melancólico perfeito para ilustrar o conteúdo lírico. O solo de guitarra também é um dos melhores da carreira de Daron Malakian, adicionando uma camada extra de desolação à canção, que, infelizmente, foi o último registro de estúdio da banda até os singles “Protect the Land” e “Genocidal Humanoidz”, lançados em 2020.
Foto: Clemente Ruiz
