The Aristocrats
20 de agosto de 2025
Tork n’ Roll
Curitiba/PR
Por Luís S. Bocatios
Fotos de Clovis Roman
Guthrie Govan (Asia, Steven Wilson), Bryan Beller (Steve Vai, James LaBrie, Joe Satriani) e Marco Minnemann (Steven Wilson, Joe Satriani). Esses são os “aristocratas” que estão mantendo vivos os conceitos de power-trio, supergrupo, virtuosismo e música instrumental.
Na noite de quarta-feira (20), o trio se apresentou no Brasil pela primeira vez desde 2016, quando tocou em São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis. Portanto, foi a primeira visita do grupo a Curitiba. Mesmo que não se encontrasse exatamente lotado, o Tork n’ Roll estava bastante bem preenchido, com um público bastante satisfatório para uma banda cujo som é tão anti-comercial quanto o The Aristocrats.

Antes dos músicos entrarem no palco, ouviam-se conversas na plateia dizendo que “esse é o tipo de banda que só músicos gostam”. Talvez seja verdade para músicos que tem uma auto-estima elevada, pois este jornalista que vos escreve (que também é um pseudo-guitarrista/baterista) voltou para casa com vontade de queimar todos os instrumentos que possui.
Com pouco menos de dez minutos de atraso, os músicos subiram ao palco e já começaram a fazer uma mini-jam baseada na música que ainda estava sendo tocada no sistema de som. Ao final, Beller apresenta os músicos ao público e a banda já começa a tocar a pesada, funkeada e altamente virtuosa “Hey, Where’s My Drink Package?”, a primeira das quatro músicas que abrem o último álbum da banda, “Duck”, que foram tocadas na ordem.

Já de início, é sensacional observar a comunicação dos músicos no palco, que ficam o tempo todo se olhando para avisar um ao outro quando já terminaram os solos e podem seguir para a próxima parte. Para fãs de bandas como The Allman Brothers Band, Led Zeppelin e Cream, é impossível não se imaginar em um show nos anos 1960 ou 1970, quando as improvisações eram parte inegociável dos shows de rock.
É claro que as principais partes da música são mantidas e executadas ao vivo perfeitamente, mas alguns solos se estendem e seguem caminhos diferentes daqueles que foram registrados em estúdio. Nos dois últimos minutos da canção, a atmosfera criada libera Govan para seguir um caminho totalmente jazzístico em seu solo, remetendo imediatamente ao trabalho de John McLaughlin, pioneiro da guitarra fusion conhecido por seu trabalho com Miles Davis (os álbuns A Tribute to Jack Johnson e Bitches Brew são obrigatórios) e Mahavishnu Orchestra (Birds of Fire é um dos melhores discos de todos os tempos).
Antes da segunda música, Beller começou a pedir alguns ajustes no retorno para sua equipe sonora, o que se tornou constante ao longo da noite. Para o público, pelo menos, o som estava perfeito: a mixagem não poderia ser melhor, dando destaque a cada um dos instrumentos de forma impecável; caso contrário, dada a sonoridade do trio, o show teria sido completamente comprometido. Segundo o baixista, a música seguinte surge da pergunta “o que aconteceria se um pato se perdesse em um clube dançante em Nova York?”.
“Aristoclub” prova que a resposta para essa pergunta é: uma sonzeira inacreditável. Com um tema de guitarra que se repete ao longo da música, lembrando aspectos do trabalho de Frank Zappa em álbuns como “Hot Rats” e “The Grand Wazoo”, a música tem alguns dos solos de guitarra mais impressionantes da noite e talvez seja a mais divertida de todo o repertório. Beller e Minnemann fornecem uma base que consegue a proeza de ser, ao mesmo tempo, sólida e quebrada, por mais contraditório que isso possa parecer. É um nível de musicalidade dos mais altos possíveis.
Antes da terceira música, “Sgt. Rockhooper”, há uma interação longuíssima em que Beller e Govan explicam o conceito por trás de “Duck”, que envolve uma confusão entre patos e uma polícia dos pinguins. O guitarrista mostra bichos de pelúcia para ilustrar, e, ao mostrar um pinguim minúsculo, pede desculpas: “esse foi o maior pinguim que o orçamento de música instrumental pôde financiar”.
Mesmo que os gestos que os músicos faziam uns para os outros no palco dessem a entender de que eles ainda não estavam conseguindo se ouvir, a execução da música foi impecável. Govan novamente brilha com solos surreais, e há algumas quebras instrumentais tão complexas que mesmo se eles estivessem se ouvindo perfeitamente seriam impressionantes; com os problemas, então…
A primeira interação de Marco Minnemann com o público foi em português. O baterista disse: “e aí piazada, tudo bem? É muito bom estar aqui vocês. Essa próxima música tem um pouco de funk, jazz e metal e em alguns momentos a guitarra faz uns sons de pato”. Trata-se de “Sittin’ With a Duck On a Bay”, a música mais jazzística da noite, que parece saída do maravilhoso álbum Head Hunters, de Herbie Hancock, mas com guitarra e algumas passagens mais pesadas. Mais do que em qualquer outro momento da noite, os músicos se olhavam, riam e se divertiam horrores.

Ao final da música, Minnemann falou “vocês são foda!” e Beller voltou a reclamar do som, afirmando que “acreditem, quem está nos dando energia essa noite são vocês”. Govan brincou que o título da próxima música havia sido roubado dele décadas antes da banda existir e chegado ao top 10 das paradas, se referindo ao hit oitentista “Spanish Eddie”, de Laura Branigan. Foi a primeira música da noite que não faz parte de Duck, mas sim de You Know What…?, quarto álbum de estúdio da banda, lançado em 2019.
Não por acaso, a canção carrega certos elementos da música flamenca, que dão a base para que Govan execute seu melhor solo da noite. Sua velocidade é sempre impressionante, mas o bom gosto utilizado pelo guitarrista na escolha das notas e no timbre de seu instrumento é ainda mais louvável. Minnemann também brilha ao fazer uma condução incrivelmente complexa, alternando andamentos diferentes e viradas surreais. A segunda metade traz a parte mais pesada de todo o show e traz o único momento em que o pedal duplo é protagonista, mas também tem momentos mais sutis em que o baixo de Beller soa lindamente melódico. Possivelmente foi a performance mais impressionante da noite.
Antes de “The Ballad of Bonnie and Clyde”, o baixista contou que a canção foi escrita logo após sua primeira passagem pela América do Sul, em 2016, quando voltou os Estados Unidos e descobriu que todos os seus baixos haviam sido roubados. A polícia achou os assaltantes, mas todos os instrumentos já haviam sido vendidos.
Na última nota da música, Govan e Beller saem do palco, voltando todas as atenções para o solo de bateria de Minnemann, que poderia ter durado a noite inteira. O leque de técnicas e a criatividade do baterista são genuinamente inacreditáveis. Em um momento, o solo consiste apenas no ximbau, com o baterista tirando uma musicalidade surreal apenas da cúpula do prato; em outro, ele bate uma baqueta na outra e consegue fazer coisas mais interessantes do que 99% dos bateristas do mundo. Ver Marco Minnemann ao vivo é um privilégio inesquecível.
A execução ao vivo da música pula os dois minutos iniciais da gravação de estúdio, que trazem uma belíssima peça orquestral. A orquestra acaba fazendo falta ao vivo, visto que a banda escolheu por não usar uma backing track com a faixa orquestral, e, muito por isso, a canção acaba se tornando uma das menos empolgantes da noite.
O clima continua em “Flatlands”, que mesmo tendo sua melodia de guitarra cantarolada pelo público, é um pouco repetitiva demais para ser considerada uma grande música. As mudanças de andamento que fazem as outras músicas tão impressionantes também não estão presentes, e, mesmo que Govan performe um solo de extremo bom gosto e Beller tenha momentos brilhantes, a canção não é tão interessante assim.
“Here Come the Builders”, por sua vez, é um pouco similar demais às músicas do começo do show, e sua inclusão no repertório acaba sendo um tanto quanto redundante. Quanto às performances, não há o que falar: o trio é cirúrgico 100% do tempo.
O efeito do pedal em “This is Not Scrotum” — que, segundo Bryan Beller, é inspirada no fusion do leste europeu — faz com que a guitarra se transforme no som de um violino, elevando a música a algo totalmente diferente do que vimos no restante da noite. Há uma parte no meio cujo ritmo lembra a de uma valsa e a melodia caberia na trilha sonora de um filme de Quentin Tarantino. O curto solo de baixo de Bryan Beller é incrível e o final da música é apoteótico, consolidando a canção como um dos grandes momentos da noite.
Anunciada como a última música, “Get it Like That” é outra das mais jazzísticas da noite, especialmente na levada de bateria, que tem uma complexidade imensa. A música se estende muito além de sua versão de estúdio ao passo em que os músicos pegam porcos e galinhas de borracha, aproximam do microfone e apertam, pedindo para que o público repita os sons gerados pelos brinquedos. Além do mais, Govan ainda insere um trecho de “Garota de Ipanema” no fraseado de seu solo e faz o riff de “Shine on You Crazy Diamond”, do Pink Floyd. Um momento divertido foi quando o baixista perguntou quantos músicos estavam na plateia e praticamente todo mundo levantou a mão. Talvez, de fato, seja uma “banda para músicos”.
Após a brincadeira, o trio se une na frente do palco para tirar fotos e Beller diz: “eu sei que é um ritual bobo, mas vocês querem ouvir mais uma música?”. Minnemann diz ao público que “Desert Tornado” é uma música extremamente difícil de tocar na bateria: “ainda bem que é a última”. Depois de ver o cidadão tocando tudo o que tocou naquela noite, o público pensa “o que esse cara acha difícil?”.
A resposta vem logo na introdução da última música, que de fato parece a de execução mais complexa, pelo menos na bateria. O ritmo é tão frenético e quebrado que o baterista parece estar sofrendo para performá-lo, mesmo nos momentos em que apenas pratos são tocados. Ao longo de sua progressão, a canção ainda exibe um timbre de baixo pesadíssimo e um solo de guitarra caótico que, por uma última vez, comprovam ao público que aquela seria uma noite inesquecível para todos que a presenciaram. Certamente 98% dos presentes jamais viram ou verão uma performance tão impressionante de três dos maiores músicos vivos.
Repertório
Hey, Where’s My Drink Package?
Aristoclub
Sgt. Rockhopper
Sittin’ With a Duck on a Bay
Spanish Eddie
The Ballad of Bonnie and Clyde
Flatlands
Here Come the Builders
This Is Not Scrotum
Get It Like That
Desert Tornado

Talvez eu seja execrado pelos fãs da Banda, mas, sinceramente eu quase dormi no show dos caras tal o tédio. (!!!) Sou um cara velho e desde os meus 13 anos acompanhei os mais fantásticos guitarristas e bandas de Rock que já surgiram, entre eles(as), Duane Allman, Dickey Betts, Warren Haynes, Jimi Hendrix, Rory Gallagher, John McLaughin, Jimmy Herring, Pete Townsend, Rhino, etc, etc, etc. Eu poderia fixar o dia inteiro citando uma porrada de excelentes guitarristas.Os tempos são outros, a galera tem outras preferências, O que eu respeito (gosto não se discute). Resumindo: Fui embora mei hora antes do show terminar.
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