[Resenha] Behemoth – The Shit ov God
(Shinigami Records – nacional)
por Clovis Roman
Na última década, o Behemoth parecia mais interessado na parte visual que na musical. A grandiosidade dos shows (basta conferir o profano DVD In Absentia Dei), a imagem vendida, a pomposidade excessiva são muito legais, mas até certo ponto. No fim das contas, o produto mais importante de uma banda é a música. O resto é complemento. E a qualidade vinha caindo, até chegarem a um disco verdadeiramente ruim, que foi justamente o anterior a este lançamento: Opvs Contra Natvram (2022).
Tendo isto em vista, confesso que The Shit ov God, a despeito do título maravilhoso, não me havia acendido qualquer minúscula faísca de interesse. Mas assim que “The Shadow Elite” começou, a fagulha, até então inexistente, se transformou em uma cortina de labaredas impiedosas, criando um cenário infernal na minha cabeça. Uma banda de metal tem que tocar metal. Até mesmo a faixa-título, mais alinhada com o Behemoth da última década (lento, simplório, insosso), é agressiva ao transbordar ódio.
A parte lírica teve grande mudança, ficando mais básica, na falta de termo melhor. Sem o parceiro Krzysztof Azarewicz para as letras, Nergal assumiu a função e trouxe um novo espectro na parte escrita. O apaixonante título do disco pode indicar que deu certo.
A banda em breve tocará no Brasil. Saiba mais aqui.
Uma breve intro preenche os primeiros segundos de “The Shadow Elite”, que remete imediatamente a discos como Satanica e Thelema.6, por ser extrema como um tanque de guerra desgovernado, assim como sua sucessora, “Sowing Salt”, mesmo que esta traga partes mais lentas e agonizantes, mas com contexto. A faixa-título é mais próxima ao Behemoth dos últimos anos, mas mesmo assim, soa mais orgânica. Deve funcionar muito bem ao vivo, assim como “Lvciferaeon”. Afinal, não tem como não querer cantar “If I Am God” junto com a banda.
Abrindo de maneira incrivelmente veloz – e chega até mesmo a lembrar o Napalm Death da segunda metade da primeira década do atual milênio -, “To Drown the Svn in Wine” é o provável ápice criativo e brutalidade de um trabalho nivelado por cima. Após dois minutos, uma passagem mais cadenciada nos encaminha ao final da composição. Nada de firulas.
A trinca final conta com músicas mais extensas, que não perdem o foco, como a apocalíptica “Nomen Barbarvm”, que soa como um cântico entoado nas galerias mais profundas do inferno. Se esta música estivesse em algum dos dois discos anteriores – o já citado Opvs Contra Natvram ou I Loved You at Your Darkest (2018) -, poderia até passar batida, mas neste cenário, funciona, pois é um trabalho mais homogêneo. O nome “O Venvs, Come!” já entrega: é um épico cadenciado na pegada de “O Father O Satan O Sun!”, brilhante obra do aclamado The Satanist (2014).
Para encerrar em alta rotação, “Avgvr (The Dread Vvltvre)” retoma mais passagens velozes, sem perder a aura macabra instituída neste último bloco. Por fim, oito músicas – que não são exatamente curtas, mas não pecam pelo excesso – em apenas 37 minutos, na velha escola do metal. E a menor quantidade de faixas deixa a audição sempre envolvente. Neste caso, melhor deixar uma sensação de que poderia ter mais músicas, do que, de fato, ter muitas e soar cansativo. Normalmente, eu ouço um disco de três a cinco vezes para fazer uma resenha. Este aqui rodou mais de 20, e contando.
Compre o CD: https://www.lojashinigamirecords.com.br/p-9502391-Behemoth—The-Shit-Ov-God
Musicas:
- The Shadow Elite
- Sowing Salt
- The Shit Ov God
- Lvciferaeon
- To Drown The Svn In Wine
- Nomen Barbarvm
- O Venvs, Come!
- Avgvr (The Dread Vvltvre)
Foto: Clovis Roman (2022)
