[Cobertura] Anette Olzon emociona o público com show focado em seu trabalho com o Nightwish; Magistry se destaca na abertura

Anette Olzon + Magistry
22 de setembro de 2025
Tork n’ Roll
Curitiba/PR

Por Luís S. Bocatios
Fotos de Clovis Roman

Desde que deixou o Nightwish, em 2012, a cantora Anette Olzon se manteve distante dos holofotes, mas nunca parada. Com raras apresentações ao vivo, a vocalista lançou três discos solo e participou de projetos como o The Dark Element e o Allen/Olzon. No entanto, a turnê pela América do Sul em 2025 marca a primeira vez na qual a artista faz shows focados em seu trabalho com o Nightwish, que consiste nos álbuns Dark Passion Play (2007) e Imaginaerum (2011).

O repertório conta com treze faixas, oito de Dark Passion Play e cinco de Imaginaerum, proporcionando aos fãs uma viagem no tempo ao período em que Anette comandou os vocais do Nightwish. Mesmo que a banda continue apresentando várias canções desses álbuns em suas turnês mais recentes com a vocalista Floor Jansen, a experiência de ouvir as canções com o vocal original é insubstituível para os fãs.

Na abertura da noite, o público ainda assistiu a apresentação da banda curitibana Magistry, que também estará ao lado de Anette no show de sábado (27) na capital paulita. A banda se encaixou perfeitamente na sonoridade da noite com um heavy metal sinfônico com passagens que de death e doom metal, em um mix sonoro bastante interessante e original.

Magistry

O quinteto é formado pela vocalista Lya Seffrin, o guitarrista e vocalista Leonardo Arentz, o guitarrista João Borth, o tecladista Thiago Parpinelli, o baixista Leonardo Rivabem e o baterista Johan Wodzynski. Mesmo que a sonoridade seja marcada pelo virtuosismo dos integrantes, a banda se preocupa muito com a elaboração de melodias marcantes e de paisagens sonoras imersivas, que convidam o ouvinte a entrar em um universo sonoro único, sem nunca deixar de lado o peso brutal de algumas composições.

A primeira música, “Swing to the Circles of Time”, já é uma perfeita representante de todos esses aspectos da sonoridade da banda. A trabalhada composição traz passagens com blast-beats que remetem ao metal extremo, além de backing vocals guturais feitos por Leonardo Arentz. No meio disso, também há passagens mais calmas, que contam com uma bela melodia vocal, e até um solo de teclado.

O show tem sequência com “Alchemy of the Inner World”, cuja introdução puxa mais para o lado do power metal, gênero no qual a banda transita com autoridade. A transição para momentos mais pesados, com o vocal gutural dominando os versos e o refrão voltando para um lado mais melódico, também é feita com muito talento e reforça a autoralidade do trabalho da banda, que mistura gêneros diferentes de forma a gerar uma pegada muito particular.

A terceira música, “Black Abyss”, traz uma harmonia que remete à música oriental e segue um caminho mais brutal do que as músicas anteriores, com algumas das passagens mais pesadas da carreira da banda — o interlúdio que tem início da metade para o final da música é uma quebradeira deliciosa, puro death metal.

Com cerca de trinta e cinco minutos à disposição, a banda teve que ser bastante econômica em sua interação com o público, mas mesmo assim agradeceu a todos os presentes e passou uma mensagem importantíssima pedindo para que as pessoas escutem as bandas autorais de suas cidades. De resto, o repertório correu sem praticamente nenhuma interrupção.

“Divine” foi a primeira das duas músicas que a banda apresentou de seu último lançamento, o EP Venus Mellifera, que foi lançado na sexta-feira (19), três dias antes do show. A música vai por um lado mais atmosférico e, ao longo de seus mais de sete minutos, apresenta melodias belíssimas e uma sessão extrema que desemboca de volta no refrão de forma perfeita — assim como o encerramento, que traz um solo de guitarra excelente e muito melódico.

A segunda representante do EP foi “Me, the Moon and Venus”, uma das melhores músicas da banda até o momento. Com uma beleza ímpar em sua harmonia, a canção tem uma característica quase hipnótica, visto que a paisagem sonora que o grupo constrói é extremamente imersiva. O encerramento veio com “Lost Paradise”, que também encerra o único álbum da banda até o momento, “The New Aeon”. Com uma energia pra cima, a canção finaliza o show de forma perfeita e prova para quem não conhecia a banda que se trata de um dos nomes mais promissores do metal nacional.

Repertório

Swing to the Circles of Time
Alchemy of the Inner World
Black Abyss
Divine
Me, the Moon and Venus
Lost Paradise

Anette Olzon

Mesmo que sua passagem pelo Nightwish tenha sido conturbada por causa de fãs que não aceitaram a saída de Tarja Turunen da banda, os álbuns Dark Passion Play e, especialmente, Imaginaerum, estão frequentemente nas listas de melhores lançamentos da banda. Desde que deixou a banda, em 2012, Anette nunca mais havia shows focados nesse repertório, o que transformou a noite em imperdível para fãs do Nightwish nessa época.

Nessa turnê, a cantora está acompanhada do guitarrista Sanzio Rocha, do tecladista Vithor Moraes, do baterista Kiko Lopes e do baixista Filipe Duarte, membro do Overdose, que também assume os vocais originalmente gravados por Marko Hietala em algumas músicas. A banda é perfeita e executa com primor os arranjos originais, além de ter uma ótima presença de palco. O grande destaque fica com Filipe Duarte, cujo baixo estava privilegiado pelo sistema de som e se tornou o principal instrumento.

A abertura já pegou o público pela garganta: a excelente “7 Days to the Wolves” teve seu refrão berrado pelo público, enquanto a cantora bangueou, chamou o público para si e provou que, mesmo após tanto tempo longe das turnês, sua presença de palco continua perfeita e seu domínio do público é exercido do primeiro ao último minuto do show, sempre pedindo a participação da plateia nos momentos certos e com um sorriso contagiante que demonstra uma alegria imensa de estar de volta ao palco.

Em sua primeira interação com o público, a cantora agradeceu a presença de todos e contou que estava aproveitando Curitiba, já tendo visitado dois restaurantes renomados da cidade. Ela ainda foi a um estúdio de tatuagens, onde tatuou uma cruz em sua nuca, incitando gritos de “pastora! pastora!” da plateia, em referência à fé cristã da vocalista.

As duas músicas seguintes foram uma dobradinha de Imaginaerum: “Storytime”, que fez o público cantar alto e se emocionar no refrão, e “Ghost River”, na qual o baixo é o grande destaque. “Bye Bye Beautiful” foi a outra que fez o público se esgoelar cantando, especialmente no fácil e pegajoso refrão.

“Amaranth”, um dos maiores clássicos do Nightwish, levou o público à loucura, com cada palavra da letra sendo gritada pela plateia. Após um coro de “Anette! Anette!”, a cantora anuncia “Rest Calm” como uma de suas músicas favoritas que gravou com o Nightwish. Com quase sete minutos, a canção é uma das mais progressivas do repertório, com andamentos quebrados e várias partes diferentes que trabalham juntas de forma perfeita. A performance vocal de Filipe Duarte também merece aplausos.

O baixista continua como destaque em “Last of the Wilds” — se bem que, sendo justo, a banda toda brilha na canção, visto que belíssimos solos de guitarra e de teclado se unem a uma levada de bateria simples, mas perfeita, que transforma a instrumental em um dos momentos mais legais do show, mesmo que Anette esteja fora do palco durante a execução da música.

Quando volta ao palco, a cantora apresenta os músicos e os elogia efusivamente de forma extremamente merecida, contando que a banda havia feito apenas um ensaio antes do início da turnê e que estava impressionada com o trabalho dos músicos. A vocalista anuncia “Eva”, primeiro single que o Nightwish lançou com ela no vocal, como uma de suas favoritas por se identificar com a letra, que trata sobre bullying. Com todos sentados no palco, a canção traz uma performance super emotiva de Anette, e um solo lindíssimo executado com perfeição por Sanzio Rocha.

Outra que a vocalista anunciou como uma de suas favoritas foi “Turn Loose the Mermaids”, que nunca foi tocada ao vivo pelo Nightwish e traz uma vibe medieval apaixonante para os fãs de metal sinfônico. Em seguida, Anette elogia a performance da Magistry, dizendo que ficou impressionada com a qualidade da banda: “eles são bons pra cacete!”. Por isso, ela convida Lya Seffrin para cantar “Sahara”; a vocalista foi recebida de forma calorosa pelo público, que entoou seu nome repetidas vezes, e fez um dueto fantástico com Anette, em um dos momentos mais fortes do show.

É claro que o grande épico da fase de Anette com o Nightwish não poderia ficar de fora do repertório: “The Poet and the Pendulum” beira os 14 minutos de duração, tem um refrão extremamente grandioso e empolgante, que levou o público à loucura, e ainda traz partes contemplativas que transformam a apoteótica segunda metade da música em ainda mais impactante. Em termos de performance da banda, é o momento mais impressionante do show.

A penúltima canção foi a balada “Meadows of Heaven”, que pode ser considerada um pouco melosa demais, mas agrada os fãs do metal sinfônico ao trazer a grandiosidade que caracteriza o gênero. Após isso, a cantora contou que tinha 35 anos e apenas um filho ao entrar no Nightwish; hoje em dia, ela tem três. Ao sair em turnê, ela sempre deixava o garoto, Seth, pra trás, então decidiu trazê-lo para a turnê pela América do Sul e o chamou ao palco. O garoto entrou enrolado em uma bandeira do Brasil, que logo amarrou na mãe e puxou novamente os gritos de “pastora! pastora!”.

Encerrando o show, a banda apresentou “Last Ride of the Day”, cujo grandioso arranjo de teclados é extremamente criativo e comanda a música. Com o alto astral lá em cima, a cantora manda o público pra casa com a esperança de aquela não tenha sido a última visita de Anette ao país com o repertório do Nightwish; se depender da felicidade que a cantora demonstrou ao estar no palco, é muito provável que ela esteja de volta logo logo.

Repertório

7 Days to the Wolves
Storytime
Ghost River
Bye Bye Beautiful
Amaranth
Rest Calm
Last of the Wilds
Eva
Turn Loose the Mermaids
Sahara
The Poet and the Pendulum
Meadows of Heaven
Last Ride of the Day

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