Michale Graves
30 de outubro de 2025
Basement Cultural
Curitiba/PR
por Clovis Roman
O vocalista Michale Graves tem um histórico complicado com o Brasil. Em 1998, não veio para cá com o Misfits para a turnê do disco American Psycho – sendo substituído por Myke Hideous. Segundo ele, em uma entrevista recente para o Metal Na Lata: “Tive uma discussão com Jerry Only (baixista do Misfits). Então, Only e seu irmão Kenny, que era nosso tour manager na época, decidiram me substituir por outra pessoa ao invés de falar comigo e trabalhar para tornar as coisas melhores e mais fortes. Então, eles vieram aqui para o Brasil e me queimaram contando meias verdades e espalhando informação falsa. Eles me demitiram da banda”. Kenny teria dito para Hideous que Graves não comparecia aos ensaios e que ele não queria fazer uma turnê pela América do Sul, pois preferia ir jogar hóquei.
Graves saiu da banda, mas logo voltou e gravou mais um disco: Famous Monster (1999), mas como as coisas não melhoraram internamente, saiu em definitivo um ano mais tarde. Em maio de 2001, fez algumas performances com o Misfits como convidado. Dois meses depois, a banda retornou ao Brasil, mas já com Jerry Only nos vocais. Em outubro, a compilação Cuts from the Crypt trouxe as últimas gravações de Graves com o grupo. Segundo o próprio, não há outros materiais inéditos que tenham sobrado.
Finalmente em 2010 veio pra cá, e chegou a participar do Rock in Rio, em show ao lado de Marky Ramone, em 2013. Fortalecendo a base de fãs no Brasil, em 2019 pegou sua primeira turnê extensa pelo país, mas ele a abandonou faltando seis datas, logo após um show lotado em São Paulo. Em 2022, a turnê saiu como planejado e em 2025, ao que tudo indica, o clima é totalmente diferente – o ambiente no backstage era tranquilo e alegre. Mesmo que tenha sido ventilado por aí que a turnê traria os discos American Psycho e Famous Monster na íntegra, o que tivemos foi uma compilação de grandes momentos desses trabalhos (10 músicas de cada, para ser mais específico), além de músicas da fase antiga do Misfits (com Glenn Danzig no vocal) e alguma coisa solo.
Provavelmente devido ao calor absurdo dentro do Basement Cultural – as paredes estavam pingando de suor – Graves e banda reduziram algumas músicas no setlist. As previamente programas que ficaram de fora, foram: “The Beginning of the End”, “Best of Me” e “When Worlds Collide”, da carreira solo do cantor; “1 Million Light Years From Her” e “Casket”, lançadas como Graves, no álbum Web of Dharma (2002, cujas músicas eram composições dele para o Famous Monster, mas que acabaram não sendo utilizadas pelo Misfits); “Weeds”, cover do Life of Agony; Horror Business, do Misfits; e “What a Wonderful World”, música do Louis Armstrong, mas na versão de Joey Ramone.

Que a fase Graves foi fundamental para a manutenção do Misfits, é inegável. Hoje, estão ganhando milhões na reunião com Danzig, mas naquela época, encontraram no então jovem cantor o elo ideal para retornar aos palcos e estúdios após mais de uma década de hiato. American Psycho marcou uma geração de fãs no Brasil, pois os clipes de “Dig Up Her Bones” e “American Psycho” passavam praticamente toda semana na finada MTV. E esta segunda, após a macabra intro “Abominable Dr. Phibes”, foi o início de um show enérgico e quente em vários sentidos. A empolgação era tanta que, depois da hecatombe causada por “Speak of the Devil”, o vocalista teve que pedir para a galera se segurar: “Curtam mas tomem cuidado, pois tem garotas na primeira fileira”, advertiu.
Empolgado, desejou “happy halloween” várias vezes ao público, até a hora que cantou, de fato, “Halloween”, clássico primordial do Misfits. Curiosamente, há exatos 30 anos, numa noite de halloween, Graves fazia seu primeiro show com o Misfits na cidade de Poughkeepsie, nos Estados Unidos. Das antigas, “Last Caress” foi o grande destaque, enquanto a divertida “Where Eagles Dare”, “Skulls” e “Hybrid Moments” foram escolhas acertadas. A galera não parou nem um segundo, mas era visível que os presentes queriam mesmo era revisitar a fase noventista do Misfits.
O primeiro bloco trouxe seis músicas do lado A do American Psycho, instaurando o caos – não tem como não citar a eletricidade quase palpável no ar durante “Dig Up Her Bones”. O público subia no palco incessantemente para moshes ou para tirar fotos com Graves. Tinha gente até pedindo autógrafos. Lá pro fim do show, começou a encher o saco e teve gente xingando quem subia ao palco. Mas verdade seja dita, todos estavam se divertindo, inclusive um bastante gentil e empolgado Graves. Não tinha como ser diferente, pois porradas como “Shining”, “Crimson Ghost”, “Resurrection”, e petardos do Famous Monsters como “Scream”, “Descending Angel”, a maravilhosa “Hunting Humans”, e “Fiend Club” eram despejadas praticamente sem folga. Até mesmo “Saturday Night”, uma singela “canção de amor”, foi cantada de maneira esgoelada por todos.
O fim da festa foi decretado com “Helena”, uma das músicas mais geniais daquela fase do Misfits, pois abre com versos grudentos, um ritmo envolvente, depois vira uma pancadaria brutal e volta para a “calmaria” antes do fim. Ela apresenta tudo o que fez o som da banda tão especial – e tem até uma parte em que as melodias vocais lembram muito os versos finais de “Welcome Home (Sanitarium)” do Metallica. Ainda teve “War Pigs”, do Black Sabbath, mas nela muitos já começavam a sair. Mesmo com a redução no repertório, ainda presenciamos quase três dezenas de canções, com uma excelente banda, performance de alto nível de energia e conexão com o público e uma platéia insana. Deixando qualquer outro tema extra musical de lado, foi um show soberbo.
Repertório:
Abominable Dr. Phibes [Misfits]
American Psycho [Misfits]
Speak of the Devil [Misfits]
Walk Among Us [Misfits]
From Hell They Came [Misfits]
Dig Up Her Bones [Misfits]
Last Caress [Misfits]
Lost in Space [Misfits]
Shining [Misfits]
Crimson Ghost [Misfits]
Dust to Dust [Misfits]
Punk Rock Is Dead
Where Eagles Dare [Misfits]
Forbidden Zone [Misfits]
Scream! [Misfits]
Saturday Night [Misfits]
Descending Angel [Misfits]
Hunting Humans [Misfits]
Resurrection [Misfits]
Pumpkin Head [Misfits]
Skulls [Misfits]
Fiend Club [Misfits]
When We Were Angels
Don’t Open ‘Til Doomsday [Misfits]
Halloween [Misfits]
Hybrid Moments [Misfits]
Helena [Misfits]
War Pigs [Black Sabbath]
Fontes citadas/usadas na pesquisa para a confecção desse texto:
1º – https://metalnalata.com.br/entrevista-com-michale-graves-ex-misfits. Acesso em 08 de novembro de 2025.
2º – https://www.mykehideous.com/the-misfits-era. Acesso em 08 de novembro de 2025.
3ª – https://www.misfitscentral.com/misfits95/tourdates.php. . Acesso em 07 de novembro de 2025.
