The Exploited
04 de dezembro de 2022
Basement Cultural
Curitiba/PR
Por Clovis Roman
Um punhado de bandas foi escalado para abrir o show da lenda britânica (Escócia é parte integrante da Grã-Bretanha, portanto…) The Exploited em Curitiba. Um prato cheio para quem quer sair de casa e ver o máximo possível de música ao vivo numa só tacada.
Quem abriu os trabalhos, ainda a tarde, foi o Royal Rage, que mandou um set curto de cinco músicas, a saber: “Evolve”, “Bloodlust”, “Into the Abyss”, “Disease” e “Real Dolls”. A banda conta com músicos experientes na cena, como Henrique Carvalho (baixo e voz), do Necropsya, e Sol Perez (guitarra), ex-Semblant e Hawthorn. Completam o time os igualmente competentes Pedro Ferreira (membro fundador, da época que o grupo se chamava Royal Rampage) nos vocais e guitarra, e o baterista Tiago Rodrigues. Foram seguidos pelo Repudiyo, uma das bandas mais ativas do cenário, que mandou um generoso punhado de músicas que apostam no punk/hardcore beirando o grindcore. A banda, agora com Kevin Vieira na guitarra, ganhou um upgrade abismal no quesito técnico com um músico realmente gabaritado para tal função.

O death metal assumiu o recinto com o Hammurabi, tocando pela segunda vez em Curitiba, retornando após doze anos. Do não tão novo L.A.W., vieram pedradas do quilate de “The Emperor Returns to the Front”, “Kings of Babylon”, “Wrath Against the Dying of the Light” e “Followers of Black”, que fechou o massacre. Foram oito músicas, portanto, as outras quatro vieram do debut The Extinction Root. Por restrição de tempo de palco, “…and the Soul of the Planet Is Gone” foi cortada. O público ainda era um tanto tímido naquele momento, mas quem conferiu, certamente foi impactado pela brutalidade dos mineiros. Em fevereiro, eles retornarão para o Extreme Metal Carnival.

O Necroterio, lenda do death/grindcore curitibano, mandou um show um pouco mais curto que o normal, e dividiu de maneira igual as músicas de seus três álbuns. O pessoal mais das antigas vibrou com “Dying Inside of Death”, um dos sons mais fodidos de todos os tempos, o clássico supremo “Gory Days” e “Survive With Our Flesh”, que há milênios não era tocada ao vivo. Estas são do debut Lament of Flesh (1999). Do segundo disco, A Rotten Pile of Dead Humans (2002), “Tears, Anguish and Pain”, “Elemental” e “Handcuffs”, todas essenciais em qualquer show do Necroterio. Das do último CD, Gory Visions and Hallucinations (que logo completa oito anos!), “Servant of Killing”, “Splattered Heads” e “El Carnicero (Obsesión por la Sangre)”, justamente as mais pútridas do disco. Duas covers completaram o baile: “Human Target”, do Six Feet Under e “División del Norte”, do Brujeria. Eu, particularmente, adoraria ter ouvido “Creation” ou “Ages of Fear” no lugar destas duas, mas o negócio foi uma festa regada a brutalidade, então, todos saíram ganhando.

Vindos diretamente de São Paulo (mais precisamente, São José dos Campos), o Manger Cadavre? retornava a Curitiba depois de pouco mais de um mês. Eles tocaram com o Nervosa no mesmo Basement, no final de outubro. Os repertórios, a despeito da ordem, foram praticamente idênticos. A diferença ficou por conta de “Encarceramento e Morte”, música inédita. O som caótico e denso do grupo leva a níveis preocupantes de insanidade, aos menos àqueles não acostumados com a parede sonora criada por Nata de Lima (vocal), Paulo Alexandre (guitarra), Marcelo Kruszynski (bateria) e Bruno Henrique (baixo). Este último, inclusive, parece mais à vontade no palco que em outros shows que vi da banda este ano.
O repertório do Manger Cadavre? foi focado principalmente no último álbum Decomposição, um petardo furioso e apocalíptico, seja nas letras, seja na música em si. “Epílogo”, “A Raiva Muda o Mundo”, “Miseráveis”, “Tragédias Previstas” e “Demônios do Terceiro Mundo” deixaram sua marca. Pena não ter rolado nada do AntiAutoAjuda (2019), mas não ouso reclamar, de maneira alguma. Apresentação curta, mas intensa como uma explosão nuclear.
Manger Cadavre?
Relembre aqui nossa resenha do álbum AntiAutoAjuda.
E aqui, nossa resenha do 3-way-split Alone in the Grind.
The Exploited
A banda The Exploited, fundada na Escócia no final dos anos 1970 pelo vocalista Wattie Buchan, se tornou um dos mais influentes e importantes do cenário punk, com músicas e letras agressivas, contestando a corrupção política, a violência da polícia, as guerras, a religião, entre outros tópicos politizados. Durante sua jornada de mais de quatro décadas, lançou discos clássicos do estilo, como Punk’s Not Dead (1981), Troops of Tomorrow (1982), Let’s Start a War (1983), além do mais recente, Fuck The System (2003).
Mais uma vez na cidade, o quarteto entregou também uma quantidade absurda de petardos velozes e violentos, algo que se refletiu na postura do público, devidamente alucinado com o ritmo das músicas; e alguns, com aditivos extras. Um ou outro xarope na roda, sempre tem, mas no geral era apenas aquela “good friendly violent fun” movida a riffs simplórios, bateria acelerada e versos de protesto.

No repertório, uma enxurrada de sons dos atemporais Punks not Dead e Fuck the System, numa velocidade difícil de acompanhar. O vocalista Buchan parecia estafado, quiçá pela própria turnê, mas certamente pelo calor absurdo que faz nas dependências do Basement Cultural quando este está lotado. Suor escorria das paredes da casa. Na roda, todavia, ninguém se importava com a temperatura ou com o odor.
A estupenda e brutal “Beat the Bastards” foi o momento alto da noite, assim como “Disorder” (que o Slayer já gravou), do sujo Troops of Tomorrow e, claro, “Fuck the USA”, que a galera gritou desesperadamente junto com Buchan. Nesta, inclusive, Fofinho, vocalista do Repudiyo, subiu ao palco no free-style e cantou o refrão. Maneiro demais. Esta também foi regravada por outro gigante do thrash metal: Destruction. “Porno Slut” foi dedicada à mãe de alguém na platéia. Bobo.
No final, a horrorosa “Sex & Violence” virou uma festa tremenda com quase metade da casa subindo ao palco para dançar, gritar ou cantar junto. Fechou a noite “Was It Me”, como o esperado. Curitiba viu o show completo, e por sorte, o vocalista não desmaiou, algo que aconteceu duas datas depois, na Colômbia. Buchan se recuperou e segue firme e forte. O punk não está morto.
Repertório – The Exploited
Let’s Start a War (Said Maggie One Day)
Fightback
Dogs of War
The Massacre
UK 82
Chaos Is My Life
Dead Cities
Alternative
Noize Annoys
Never Sell Out
Rival Leaders
Troops of Tomorrow
I Believe in Anarchy
Holiday in the Sun
Cop Cars
Beat the Bastards
Disorder
Fuck the System
Porno Slut
Army Life
Fuck the USA
Sex & Violence
Punks Not Dead
Was It Me
Galeria de fotos:












Um comentário em “[Cobertura] The Exploited mostra que o punk não está morto”