[Cobertura] Discharge e Crypta: Massacre em Curitiba

Discharge e Crypta
09 de dezembro de 2022
Basement Cultural
Curitiba/PR

Por Clovis Roman

Menos de uma semana depois de Curitiba testemunhar um show do The Exploited, outra lenda britânica do punk rock pisou na cidade. O Discharge subiu ao palco do Basement Cultural para uma noite memorável, abrilhantada ainda mais pela co-headliner Crypta. A abertura ficou com o Malvina, cuja qual não presenciei por estar em outro evento.

O Crypta é uma banda de death metal formada em 2019 por Fernanda Lira (baixo e voz) e Luana Dametto (bateria), cuja formação se estabilizou com as guitarristas Tainá Bergamaschi e a recém integrada Jéssica Falchi. O álbum de estreia veio em 2021, Echoes of the Soul (gravado com a guitarrista europeia Sonia Anubis), mas os shows começaram apenas este ano. Tive a oportunidade de trabalhar em algumas apresentações da banda, que de imediato ganhou mais um fã. Após ficar embasbacado com a qualidade das composições e das performances em Pomerode e Curitiba, rumei à Limeira apenas para poder ver a banda novamente, desta vez apenas como mero fã. O final de 2022 me brindou com a oportunidade de poder cobrir/fotografar mais uma vez o Crypta, novamente em minha cidade natal.

Tainá Bergamaschi, Crypta (foto: Clovis Roman).

O repertório foi basicamente a mesma coisa dos outros: o álbum na íntegra e também o single “I Resign”. Mesmo tocando Echoes of the Soul na íntegra, a ordem foi diferente. Portanto, abriram com a ameaçadora “Death Arcana”, seguindo com “Possessed” e sua intro influenciada por Death, com um trabalho primoroso de Dametto, e a furiosa “Kali”, que abre com solos vigorosos, andamento assassino e algumas pinceladas do hardcore.

O segundo bloco veio após um interlúdio, com “Under the Black Wings”, portando um refrão vigoroso, seguido de um dos melhores riffs da banda. Somado a isto, há partes que flertam com o thrash metal, porém, não de maneira cansativa. O arrasa-quarteirão “Starvation” abriu espaço para a igualmente mortífera “Shadow Within”, na qual Dametto mostra que poderia tocar com o pé nas costas. Chega a impressionar a qualidade das viradas e dos blast-beats, além da firmeza nos andamentos. Como vocalista, Fernanda Lira está melhor que nunca, além da presença de palco intimidante e mesmo assim descontraída. A dupla de guitarras de Tainá e Jéssica está cada vez mais entrosada, complementando a receita da brutalidade do Crypta. Inclusive, elas têm um brilhante momento de protagonismo na parte final de “Dark Night of the Soul”.

Crypta (foto: Clovis Roman).

Esta formou o bloco final – após outro interlúdio – com “Blood Stained Heritage”, com muito do death metal dos anos 1990, e a clássica “From the Ashes”, cujo refrão é uma pérola que reluzirá para todo o sempre – sem contar o trampo impecável das guitarras. A música do Crypta é furiosa, coesa e letal ao vivo. Se o resultado do CD já era bastante satisfatório, ao vivo, as músicas ganham uma força quase palpável.

Repertório – Crypta
Death Arcana
Possessed
Kali
Under the Black Wings
Starvation
Shadow Within
I Resign
Dark Night of the Soul
Blood Stained Heritage
From the Ashes

Discharge (foto: Clovis Roman).

Em 45 anos de carreira, o Discharge se tornou uma tremenda influência para titãs do metal, incluindo o Sepultura. Não a toa, “Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing” era tocada pelo grupo ao vivo nos anos 1990, e recentemente, Max & Iggor Cavalera tocaram esta canção em alguns shows, incluindo na passagem deles por Curitiba em 2019. (relembre aqui).

Um terço do setlist veio do álbum homônimo,   Hear Nothing See Nothing Say Nothing (1982), que completou 40 anos. Petardos do quilate de “A Hell on Earth”, “Cries of Help”, “Protest and Survive” e “The Nightmare Continues” causaram reações a níveis atômicos no público que compareceu em bom número, mas não chegou a lotar a casa.

A apresentação não teve muito papo, apenas dezenas de músicas em uma sequência alucinante, com algumas pausas para uma água. O atual vocalista, Jeff “JJ” Janiak, fez um bom trabalho, apesar de quase ter se atravessado durante a monumental “War’s No Fairytale”, que veio próxima ao fim do repertório. Esta música, uma das melhores do grupo inglês, ganhou uma versão de respeito pelo Napalm Death, no EP Leaders not Followers Pt. 2, de 2004.

Discharge (foto: Clovis Roman).

O núcleo do Discharge, entretanto, foi o que mais se destacou. A experiência de Roy “Rainy” Wainwright (baixo) e dos guitarristas Tony “Bones” Roberts e Terry “Tezz” Roberts (que antes foi vocalista e baterista) deu à performance apresentação uma solidez absurda. Na bateria, Dave Bridgwood cumpriu seu papel com a qualidade necessária para tal.

Das pérolas antigas, vários sons dos EPs lançados nos anos iniciais, como a supracitada “War’s No Fairytale” e “Fight Back” (Fight Back, 1980), “Decontrol” (Decontrol, 1980), “A Look at Tomorrow” e “Ain’t No Feeble Bastard” (Why, 1981), e a faixa-título e mais antiga do repertório dessa noite, “Reality of War”, lançada em março de 1980. Materiais mais recentes – ou menos antigos – vieram com “Hatebomb” e “New World Order” (do End of Days, 2006) e quatro músicas do disco Discharge (que já completou 20 anos): “Accessories by Molotov”, “Corpse of Decadence”, “Hype Overload” e “You Deserve Me”.

O Discharge foi regravado por bandas importantes no passar dos anos. O Metallica fez “Free Speech for the Dumb” (principal ausência no show em Curitiba) e “The More I See” no EP Garage Inc. Carpathian Forest, Soulfly e Machine Head, “The Possibility of Life’s Destruction”. Anthrax e Sepultura, “Protest and Survive”; inclusive, os brasileiros também gravaram, além das duas mencionadas acima, “A Look At Tomorrow”. O Arch Enemy, “Warning”. Grupos importantes como At The Gates, Nasum, Nausea e Solstice também prestaram seus tributos. Além de um show excelente, os presentes puderam testemunhar um dos grupos que ajudaram a escrever a história da música pesada. A importância é tanta que acabaram fazendo duas datas em São Paulo, após a primeira dar sold-out.

Repertório – Discharge
The Blood Runs Red
Fight Back
Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing
The Nightmare Continues
A Look at Tomorrow
The End
A Hell on Earth
Cries of Help
Ain’t No Feeble Bastard
Protest and Survive
Hype Overload
New World Order
Corpse of Decadence
Hatebomb
Never Again
State Violence State Control
Realities of War
Decontrol
Accessories by Molotov
War Is Hell
War’s No Fairytale
You Deserve Me
The Possibility of Life’s Destruction

Galeria de fotos:

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