Por Luís S. Bocatios
Nesta quinta-feira (9), o guitarrista, produtor e arranjador Jimmy Page completa 81 anos. Principal mente criativa por trás do Led Zeppelin, Page é uma das figuras mais importantes da história do rock, tendo composto a maioria absoluta das canções da banda e contribuindo para um avanço significativo na estética sonora do gênero.
Em uma carreira recheada de clássicos incontestáveis como “Stairway to Heaven”, “Black Dog”, “Heartbreaker”, “Rock n’ Roll” e inúmeras outras, é natural que algumas canções brilhantes acabem sendo um tanto quanto escanteadas – o que não significa que elas não mereçam ser redescobertas. Por isso, preparamos uma lista com 15 músicas do Led Zeppelin que merecem uma atenção maior.
O critério para que a música seja considerada subestimada foi o de ter menos de 30 milhões de reproduções no Spotify. Como a banda tem literalmente dezenas de músicas que chegam na casa das centenas de milhões de reproduções (“Stairway to Heaven” tem mais de 1 bilhão), o número de 30 milhões parece baixo o suficiente para considerar que determinada música é menos valorizada do que deveria. No final do texto, haverá uma playlist do Spotify que reúne todas essas músicas.
Sem mais delongas, vamos à lista:
Friends (Led Zeppelin III, 1970)
No primeiro disco do Led Zeppelin, as únicas músicas que tem menos de 30 milhões de reproduções são “Your Time is Gonna Come” e a peça de violão “Black Mountain Side”. Ambas são muito legais, mas não são grandes obras esperando por uma redescoberta. Em Led Zeppelin II, todas as músicas tem mais de 30 milhões de reproduções.
Led Zeppelin III é aberto com o petardo “Immigrant Song”, a música mais famosa da banda no Spotify depois de Stairway to Heaven. A segunda faixa do disco é a acústica “Friends”, que, aí sim, se enquadra na proposta desta lista: é uma canção absolutamente espetacular e muito pouco conhecida.
O violão que comanda a música traz uma afinação inventada por Jimmy Page, que estava no auge de sua experimentação. Os arranjos de cordas, feitos por John Paul Jones, e a percussão tocada por John Bonham trazem um clima oriental para a canção, enquanto Robert Plant atinge notas extremamente agudas, como de costume. “Friends” talvez seja a música que melhor representa o lado acústico que veio à tona no brilhante Led Zeppelin III e continuou dando as caras nos discos seguintes da banda.
Celebration Day (Led Zeppelin III, 1970)
“Celebration Day” representa de forma brilhante a outra faceta de Led Zeppelin III: uma música curta, simples, pesada e fantástica. O início traz um arranjo de guitarras sobrepostas super criativo de Jimmy Page.
A canção não tem grandes pretensões e a performance dos músicos não se destaca tanto quanto em outras faixas, mas um refrão extremamente pegajoso, um solo de guitarra simples mas divertidíssimo e um vocal carismático de Robert Plant vendem a faixa como uma das mais legais de Led Zeppelin III.
Out on the Tiles (Led Zeppelin III, 1970)
“Out on the Tiles” segue a mesma linha de “Celebration Day”, mas traz performances mais interessantes por parte dos músicos – especialmente de John Bonham, que abusa das “ghost notes” na caixa e de sua técnica que fazia o bumbo simples soar como um bumbo duplo. O fantástico de riff de guitarra soa ainda mais forte pois é seguido pelo baixo de John Paul Jones, que apresenta um som parrudo como em poucas outras músicas na carreira da banda.
Dancing Days (Houses of the Holy, 1973)
Em 1971, o Led Zeppelin havia se tornado a maior banda do mundo por causa de Led Zeppelin IV, que trazia nada mais nada menos do que “Black Dog”, “Stairway to Heaven”, “Going to California”, “Rock and Roll” e “When the Levee Breaks”, entre outros.
O sucessor tinha uma responsabilidade imensa de não decepcionar os fãs que haviam começado a acompanhar a banda recentemente, e essa missão foi cumprida com louvor. Em um álbum com tantos clássicos, como “The Song Remains The Same”, “The Rain Song” e “The Ocean”, ainda há espaço para a mais obscura “Dancing Days”.
Radiofônica, direta e com poucas variações, a música traz um trabalho de guitarra complexo e cheio de camadas, além de um dos melhores sons de baixo do disco. Um John Bonham comedido deixa espaço para que Robert Plant faça uma belíssima interpretação de uma letra um tanto quanto nostálgica sobre amores de verão juvenis.
Custard Pie (Physical Graffiti, 1975)
Em 1975, a criatividade do Led Zeppelin estava tão aflorada que um disco simples não era capaz de documentar completamente o estado criativo da banda. O duplo Physical Graffiti traria músicas longas, complexas e que enveredavam cada vez mais para um caminho próximo do rock progressivo, que havia sido prenunciado por canções como “No Quarter”.
A música de abertura, no entanto, era o bom e velho Led: pesado e direto, mas não por isso menos criativo – já na introdução, escuta-se um clavinente tocado por John Paul Jones que acompanha o riff de guitarra. O entrosamento da banda chegava ao auge: é impossível para um fã de rock não dar um sorriso ao escutar algumas das passagens maravilhosamente intricadas entre guitarra, bateria e baixo.
Individualmente, os integrantes também estavam no pico de criatividade: enquanto Jones se mostrava cada vez mais confortável em incluir diferentes instrumentos ao mix da banda, Page usava pedais diferentes e fazia solos mais longos e menos melódicos, convidando o ouvinte a desbravar escalas que o levavam a outros territórios musicais.
In My Time of Dying (Physical Graffiti, 1975)
A música mais longa da carreira do Led Zeppelin é, também, uma das melhores. “In My Time of Dying” é um cover de uma canção gospel composta por Blind Willie Johnson na década de 1920, na qual o compositor canta sobre o que espera do momento de sua morte, quando se encontrará com Jesus. A música já havia sido gravada por Bob Dylan em seu álbum de estreia, de 1962, mas a versão do Led Zeppelin é certamente a definitiva.
Enquanto Jimmy Page passa a música inteira com um slide guitar no dedo, John Paul Jones opta por um baixo fretless. Essas escolhas dão uma sonoridade completamente única à música, ao mesmo tempo em que prestam uma homenagem à gravação original da canção.
Mas isso é basicamente tudo que lembra a versão original, pois o Led Zeppelin transforma a música em algo totalmente diferente: épica, pesada, técnica e densa, a versão do Led Zeppelin de “In My Time of Dying” traz algumas das performances mais impressionantes de cada um dos seus integrantes.
Após uma longa e soturna introdução, Jimmy Page faz solos longuíssimos e extremamente rápidos de slide guitar, enquanto John Paul Jones cumpre com louvor (sem trocadilhos por se tratar de uma música gospel) o papel de fazer uma base incrivelmente sólida para a música. Robert Plant consegue se destacar mesmo em uma música que não tem a melodia como trunfo, ao mesmo tempo em que sabe os momentos de deixar o instrumental brilhar.
Mas John Bonham merece um parágrafo à parte. Na humilde opinião deste jornalista que vos escreve, a performance de Bonham nessa música é a melhor de qualquer baterista na história do rock. A maneira com a qual o músico consegue alternar entre tempos e batidas diferentes só não é melhor do que suas alucinantes viradas que acontecem na parte final da música. Poucas vezes uma banda conseguiu um nível de performance tão absurdo na história da música quanto o Led Zeppelin em “In My Time of Dying”.
In The Light (Physical Graffiti, 1975)
O disco 2 é aberto com a transcendental “In The Light”, que evoca escalas orientais e volta a utilizar o clavinete, além de sintetizadores fortíssimos (também tocados por John Paul Jones) e até um berimbau (este, tocado por Jimmy Page).
Após quase três minutos de uma introdução soturna e misteriosa, uma parte pesada e cheia de passagens complexas guia a música, até que um momento mais suave, com uma linha de baixo incrivelmente melódica, leva a música de volta até a introdução, e a ordem se repete mais uma vez até o final da canção, que é encerrada com guitarras harmonizadas capazes de levar qualquer um às lágrimas.
Down By The Seaside (Physical Graffiti, 1975)
A esta altura de Physical Graffiti, parece que Neil Young assumiu o controle do álbum e entregou uma composição digna de suas melhores. Na verdade, era apenas Jimmy Page provando ser um compositor extremamente versátil em uma canção melancólica que de fato transporta o ouvinte para uma beira de mar qualquer.
Uma parte mais pesada no meio da canção tira um pouco desse clima; é como se fosse um dia de trabalho que tira a pessoa da praia, mas faz com que o retorno seja ainda mais gostoso – assim como é o retorno para a primeira parte da música. Sem contar a majestosa “Ten Years Gone”, “Down By The Seaside” é o momento mais bonito no disco mais completo da carreira do Led Zeppelin.
Achilles Last Stand (Presence, 1976)
A faixa de abertura de Presence é uma das melhores músicas do Led Zeppelin. Os “poucos” streamings chegam a surpreender, pois, entre os fãs da banda, “Achilles Last Stand” é constantemente reverenciada. Além disso, vários bateristas citam a canção como uma das performances mais fantásticas de John Bonham.
A música também certamente é a mais metaleira da carreira do Led Zeppelin: melodias épicas, ritmo galopado, letra inspirada na mitologia grega… é difícil argumentar que não se trata de uma canção de heavy metal. Cheia de partes diferentes ao longo de seus mais de dez minutos, a música vai crescendo cada vez mais e se transforma em uma das mais gloriosas que a banda lançou.
A performance de todos os músicos é surreal: Bonham dispensa comentários, Page entrega um dos melhores solos de sua carreira, além de frases de guitarra extremamente criativas que criam uma atmosfera única para a canção, Plant canta brilhantemente e John Paul Jones ousa ao utilizar um baixo de oito cordas para realizar uma galopada que viria a influenciar praticamente todos os baixistas de heavy metal que viriam depois dele.
For Your Life (Presence, 1976)
A segunda música de Presence é consideravelmente menos complexa do que a primeira, mas nem por isso é menos genial: “For Your Life” é conduzida por riffs simples, uma bateria econômica (que, é claro, não deixa de oferecer viradas brilhantes quando tem a oportunidade), um vocal forte e um baixo certeiro.
É compreensível que alguns fãs tenham se decepcionado com a simplicidade de Presence, visto que a banda vinha adotando uma sonoridade cada vez mais complexa, mas o disco entrega um Rock & Roll de altíssima qualidade, e “For Your Life” é uma de suas melhores representantes. Também vale checar a fantástica versão ao vivo que a música recebeu no disco Celebration Day.
Hots on for Nowhere (Presence, 1976)
Talvez essa seja a música que melhor cumpre a proposta de “Presence” em ser um disco simples e direto: a estrutura pausada chega a remeter ao rockabilly dos anos 50 e o refrão com “la la la la yeah baby” não poderia ser mais simples.
Mesmo assim, a canção reserva algumas mudanças de tempo super interessantes, mais uma performance inspiradíssima de Bonham, riffs pegajosos e uma das interações entre guitarra e baixo mais bacanas de toda a discografia da banda. Mesmo dentro de uma proposta enxuta e simplista, o Led Zeppelin nunca deixou de entregar algumas canções absolutamente irresistíveis.
In The Evening (In Through the Out Door, 1979)
Quando o Led Zeppelin precisou entrar em estúdio para gravar o sucessor de Presence, o único que estava em condições mínimas de trabalho era John Paul Jones. Plant enfrentava um luto enorme pela perda de seu filho de cinco anos, Page lutava contra um vício radical em heroína e Bonham estava cada vez mais afundado no alcoolismo.
Portanto, a responsabilidade criativa acabou caindo muito no colo do baixista, que vinha ficando cada vez mais interessado pela sonoridade de teclados e sintetizadores, que acabaram se tornando a principal marca registrada de In Through the Out Door.
A faixa de abertura, “In The Evening”, começa com um som de sintetizador que remete a “In The Light” e tem uma atmosfera tensa ao longo de seus quase 7 minutos. Mesmo sem um instrumental elaborado como era de costume para a banda, a música é uma ótima composição e abre o disco de forma bastante satisfatória, estabelecendo as bases sonoras que marcariam o trabalho.
South Bound Suarez (In Through the Out Door, 1979)
“South Bound Suarez” é guiada por teclados absolutamente marcantes, algo que incomodou muitos dos fãs mais puristas que até hoje desprezam o disco como um todo. A composição não é das mais complexas, mas a música é divertidíssima e representa perfeitamente a sonoridade do álbum.
A performance de John Bonham chama a atenção por se adaptar à abordagem mais leve que a banda havia adotado, mas sem nunca deixar de lado suas viradas, que continuam altamente técnicas, mas de uma forma mais sofisticada do que brutal.
Carouselambra (In Through the Out Door, 1979)
A música mais longa de “In Through the Out Door”, com 10 minutos de duração, também é construída ao redor de sintetizadores, que tem um som moderno e são tocados de forma bastante hábil por John Paul Jones, que prova não ser apenas um interessado no instrumento, mas também um estudioso. O músico também brilha no baixo, que tem uma linha melódica interessantíssima.
Como sempre, Bonham também merece destaque por suas mudanças de ritmo que dão uma dinâmica única à canção, além de suas sempre brilhantes viradas. A guitarra, por sua vez, pouco é ouvida (pensando bem, dá pra entender a fúria dos fãs do Led Zeppelin na época), mas, perto da metade da faixa, assume o protagonismo e entrega riffs um tanto quanto psicodélicos que levam a canção a novos territórios. É a música mais trabalhada do disco e possivelmente a melhor.
Wearing and Tearing (Coda, 1982)
Lançado dois anos após a morte de John Bonham, o último álbum do Led Zeppelin, Coda, é composto por sobras de estúdio que ainda não haviam sido lançadas. O disco tem boas canções, como “We’re Gonna Groove” e “Ozone Baby”, mas a melhor de todas é a que encerra o disco, ou seja, a última canção inédita lançada pelo Led Zeppelin.
“Wearing and Tearing” é pesada, furiosa e tem uma dinâmica de começar e parar que a vende como uma das maiores joias perdidas da discografia da banda. Mais uma vez, a performance de Bonham é o principal destaque da faixa, mas o vocal juvenil e caótico de Robert Plant também merece ser notado.
Com essa lista, espero ter provado que, mesmo em uma das carreiras mais bem exploradas por fãs de rock, sempre há alguma faixa que merece uma atenção a mais. Boa audição!
Foto: Michael Zagaris

Excelente matéria! Essas músicas relacionadas são realmente ótimas! Mas cabe uma ressalva: a introdução de In The Evening nao é de Jones e sim de Page, tocando guitarra com um Gizmotron. Tem cover no YouTube.
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desculpe mas In My Time of Dying e Achilles Last Stand são as 2 maiores composições dos últimos 100 anos e isso é um fato e não uma opinião. Nenhum ser humano as subestima.
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