Material gentilmente enviado por Terceiro Mundo Chaos Discos
Por Clovis Roman
O conjunto de rock pauleira Diagnose foi formado em Fortaleza, Ceará, em 1996. De lá para cá – em meio a um período de hiato – foram um punhado de demos e splits, além de dois álbuns completos: Neurose XXI (2006) e Fútil Rotina (2011). O mais recente trabalho do quarteto é Cidade Objeto, um EP objetivo e insano, que saiu primeiro em digital (em maio de 2020) e agora em formato físico, por meio de uma ação de diversos selos underground: Terceiro Mundo Chaos, Ad Prod, Vertigem Discos, Metal Island, Zuada Rec, Helena Discos, Fuck it All Records e Criminal Attack Records. A banda é formada pelo vocalista Jorge (também baterista do crust/core Faixa de Gaza), pela baixista Dejane Grrl (também do Droped Out), pelo baterista Alisson Jonathan e o guitarrista Frank Carvalho.
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Para fazer uma resenha embasada, ouço um álbum no mínimo três vezes. Com este Cidade Objeto, o número de audições ultrapassou tranquilamente a casa das duas dúzias. O trampo abre com “Desfiguração da Ordem”, já deixando claro a seara musical do conjunto: É grindcore/crust com algo de metal e um tanto a mais de hardcore. Isto torna os sons inteligíveis, mas nem um pouco amáveis ou suaves. Os vocais são mais rasgados, porém indo aos gritados característicos do hardcore e algo de gutural mais cavernoso. Esta gama de gritaria dá um dinamismo bacana para o disquinho. As letras, como os títulos já deixam claro, são de protesto contra o cerceamento da liberdade de expressão e as mazelas da sociedade, cada vez mais alimentadas por políticas desvairadas e baseadas no combate às minorias e desrespeito aos princípios básicos individuais.
Compre o CD: http://www.tmcdiscos.com.br/p-6487585-(TMCD119)-DIAGNOSE—CIDADE-OBJETO
“Objeto Obscuro”, na linha do Napalm Death mais moderno, é uma porra ultrassônica de 13 segundos, que merece repetidas audições. Com uma leve pitada de metal, a faixa-título “Cidade Objeto” é um grind que mescla, como reza a cartilha, partes mais hardcore com as partes a velocidade da luz. O trampo do baixo se destaca aqui, com um belíssimo timbre podre, que é colocado como protagonista na agonizante intro de “Desinformação A Custo Fixo”. O riff de guitarra a seguir é daqueles que deixa iminente o começo da porradaria, daquelas que incitam o stage diving e o slam dancing.
Uma dobradinha de faixas certeiras é “Fascinante Absurdo” e “Corpos que Não Aguentam Mais”, pauladas que levam até a saideira do disquinho: “Morte Marcada no Relógio”. A faixa, com uma levada mais ‘na manha’, critica a exploração da mão de obra do trabalhador assalariado (assim como de sua energia vital), preso em uma condição na qual foi colocado pela gananciosa máquina que domina e gerencia a sociedade, que impõe o trabalho acima de tudo, necessidade alimentada ainda mais por preceitos religiosos, como por exemplo, a obrigatoriedade de formar uma família (casamento, filhos, parentes, convenções sociais, enfim…) e ser obrigado a sustenta-la: “Esmagado pelo tédio, o relógio empurra seu tormento, lá fora um outro dia cinza, mais um dia, menos vida”, vocifera Jorge. O resultado, é que o tempo que a pessoa na empresa serve apenas para financiar todo o resto que o coloca nesta posição: “Oito horas de seu dia, usurpando toda sua vida”.
Um fato contribuiu decisivamente para que tudo neste CD soe tão orgânico, como fosse um show ao vivo: O disco Cidade Objeto foi gravado, mixado e masterizado em apenas um dia: a agora lendária data de 21 de fevereiro de 2019. Um grande dia, certamente.
Músicas
- Desfiguração da ordem
- Servir ou reagir
- Cidade Objeto
- Corpos Que Não Aguentam Mais
- Fascinante Absurdo
- Objeto Obscuro
- Desinformação à Custo Fixo
- Morte Marcada no Relógio
Informações: https://www.facebook.com/diagnosecrust