Axecuter: Remando contra a maré desafiando o marasmo no Metal

O Axecuter começou sua jornada no Metal em 2010, porém com músicos já experientes no cenário da música pesada como Daniel Danmented (na época também do Imperious Malevolence) e Tersis ‘Basstard’ (também do Offal e a mente criativa por trás da one-man-band Lutemkrat), além do baterista Baphometal, que também passou pelo Offal e Septic Brain. Os anos se passaram, álbuns, demos e muitos splits vieram, assim como mudanças de formações. E uma delas foi providencial para uma evolução musical – sem entretanto perder 1% que seja de sua honestidade.

Trata-se da entrada de Verdani, jovem baterista que também toca no Jailor e no Sad Theory, e que surgiu como nome de destaque no instrumento quando integrava o já finado Sadsy. Seu estilo pesado e preciso foi o elemento final a ser unido às letras ácidas e riffs 100% metal em profusão. O disco que sacramenta a atual formação é Surrounded by Decay, um protesto anti mediocridade musical, anti covers, anti poserismo e anti mais um monte de coisa. Ser ranzinza, nesse caso, é legal demais.

Não a toa, a capa do disco é ambientada na Rua São Francisco, reduto da fauna metaleira da cidade, que abriga o bar da Dona Inês, o Jokers e que no passado contava com o lendário Lemmys Bar. A pequena rua, de apenas duas quadras, no centro da cidade, vira um cenário decadente, onde há críticas à Kéfera (humorista? youtuber? atriz?), fãs de bandas modernas, galera que curte um cover e as próprias bandas cover, roqueiros de grife, pessoas normais que vivem com a cara enfiada nos celulares, e aquelas que vivem sem tempo para nada. Tem um hipster barbudo com sapatinho sem meia também. Deve ter mais referências, basta procurar.

E como honestidade é o tema central disso tudo, conversei com o frontman do grupo, Daniel, que tampouco poupou palavras em suas falas. Melhor que uma resenha do disco, é falar sobre ele diretamente com quem o gravou. As fotos que ilustram essa matéria são inéditas, e mostram a banda em dois shows da turnê do disco Surrounded by Decay: Um no lendário Hangar – A Casa do Ócio, e outro no 92 Graus, ambos em Curitiba, nos meses de abril e maio, respectivamente.

texto e fotos ao vivo Clovis Roman

A capa de Surrounded by Decay é grosseira, no sentido de atirar para todos os lados. Há crítica às bandas cover, aos roqueiros de grife, bandas lendárias que insistem em gravar discos enfadonhos, pessoas normais com suas caras enfiadas em celulares. Sobrou até para a tal Kéfera, que nenhuma relação tem com o Metal. Enfim, qual desses vocês mais odeiam?
A capa representa uma crítica a todos esses elementos que você citou, nós odiamos todos eles igualmente, assim como tiramos sarro de várias outras coisas que tiveram que ficar de fora dessa capa, por falta de espaço [risos]. A Kéfera representa uma legião de youtubers inúteis, poderíamos ter colocado o Felipe Neto ou Nando Moura. Tudo isso que está na capa é apenas o NOSSO ponto de vista, não significa que somos os donos da verdade. Assim como as capas anteriores, essa também tem um grande significado pra gente, só isso! Uma capa com, por exemplo, guerreiros, espadas e dragões não faria sentido pro Axecuter.

Há na capa um banner de uma famosa banda cover da cidade, acima de uma porta de aço. Justamente ali é um famoso ponto de venda de drogas da cidade. Isso foi apenas uma coincidência ou houve uma intenção sarcástica nisso?
Apenas uma coincidência, acredite! Nada a ver com drogas e não é uma indireta pra nenhuma banda da cidade. Poderia ser AC/DC, Metallica ou Iron Maiden cover na placa, cogitamos todas essas opções. Acabou ficando o Pantera, que já deveria ter sido zoado na capa do compacto “Raise The Axe”, mas isso acabou acontecendo só agora.

Por que o cover é tão nocivo ao Metal?
Porque ajuda a criar uma legião de fãs superficiais, do tipo que paga pra escutar as mesmas músicas manjadas de sempre: “Highway To Hell”, “Ace Of Spades”, “Fear Of The Dark”, etc. As casas de show precisam ter público pra vender cerveja e manter o bar aberto, os músicos precisam pagar suas contas, alguns não possuem outra fonte de renda, até aí tudo bem… Mas seria legal ter um bom público também nos eventos com bandas autorais, uma coisa não precisa anular a outra. O público poderia ser menos preguiçoso e se dispor a conhecer bandas novas, ao invés de se limitar ao mainstream. Claro que ninguém precisa apoiar bandas ruins, mas com certeza dá pra descobrir bandas fodas por aí, em vários estilos.

Baterista Jefferson Verdani no palco do 92 Graus

Vocês chegaram a pensar que a capa é uma espécie de “Somewhere in Time” curitibano? Afinal, há inúmeras referências, como a pixação “No God, No Devil”, que remete a um som antigo de vocês.
É verdade, eu nunca tinha visto dessa forma! Nada intencional, apenas deixamos as ideias fluírem e saiu isso aí. A mensagem é basicamente a nossa decepção (o headbanger em primeiro plano) diante do mundo real (os elementos do lado esquerdo) e com certas coisas no Metal atualmente (os elementos do lado direito).

“Darkness in Bottles” se destaca numa primeira audição, com seu refrão memorável, assim como “Collecting Enemies”, com suas partes mais brutais. Você não acha que o som da banda está se abrindo a novas influências?
Creio que sim, mas dentro de um contexto que já existia na banda. Não queremos um rótulo específico, do tipo “Heavy”, “Speed” ou “Thrash”. Temos influências de vários estilos do Metal oitentista e queremos explorar tudo isso, de Iron Maiden, Accept e Judas Priest até Venom, Dark Angel e Sadus.

“Collecting Enemies” e “Darwin Was Right” são músicas que questionam o lado podre das pessoas, como ignorância e futilidade. Isso assola apenas o cenário Metal ou se estende à sociedade como um todo?
Pode incluir aí hipocrisia, estupidez e também o maldito senso comum. Isso se faz presente no Metal e também na sociedade em geral, pois a essência é a mesma: seres humanos. Temos uma visão muito pessimista de tudo isso, esse mundo deveria acabar logo, isso sim!

“Dying Source” critica bandas veteranas que insistem em gravar – o que é retratado na capa com referências ao Iron Maiden e Metallica. Quais outros grandes nomes vocês acham que já passaram da hora de se aposentar?
Muito legal saber que você reparou nas letras, valeu mesmo! Bom, eu acredito que essas bandas só cumprem contratos, a inspiração e a magia nas composições já se foram. A fonte secou! Eu vejo isso como algo natural, ninguém consegue ser genial o tempo todo, tudo tem um ápice e um declínio. Na MINHA opinião (quem discorda não venha me encher o saco), algumas das bandas que não deveriam mais lançar discos são AC/DC, Grave Digger, Destruction, Sepultura, Ozzy, Venom, etc. Algumas bandas antigas fazem shows só relembrando seus discos antigos, ou seja, vivem do passado. Elas sabem que não conseguem produzir algo grandioso como o que já fizeram.

Axecuter em ação no Hangar – A Casa do Ócio, em 26 de abril de 2019

E quais bandas grandes do passado vocês acham que ainda estão lançando materiais relevantes?
Obviamente isso é muito subjetivo, mas a gente gosta bastante dos materiais novos do Accept, Kreator e Judas Priest. Eu estou ansioso pra conferir o novo álbum do Exciter, espero que lancem logo algo inédito.

“Metal in Wrong Hands” é uma crítica às bandas novas que se rotulam Metal?
Não. Até poderia ser sobre isso, mas na verdade é sobre os filhos da puta que usam o Metal apenas pra obter vantagens pessoais. Eu pensei nos arrogantes, vaidosos, gananciosos e (alguns) pilantras que só querem levar vantagem ou se promover. Como diria o Mille Petrozza: “salesmen, deaf to music, blind to art”. [N. do R.: referência a letra da música Love Us or Hate Us, do Kreator, lançada no disco Extreme Aggression, 1989]

No fim da audição, parece que cada letra do álbum (exceto “Spend the Dollar”) está retratada na capa, como foi correlacionar esses fatores?
Nada intencional! Mas eu achei interessante essa sua observação, é legal saber que ainda tem gente que repara e analisa as coisas de modo não-superficial. Esse mundo tecnológico de merda está fazendo a raça humana regredir, isso não é uma opinião, é um fato!

Durante sua carreira, já foram lançados muitos splits, há planos para outros num futuro próximo?
Há sim, talvez o nosso próximo lançamento seja um split com alguma banda pauleira de outro país.

O Axecuter já gravou algumas covers, de bandas internacionais como Venom, Manilla Road, Cirith Ungol e também grupos underground brasileiros como Flagelador e Septic Brain. Se fosse para o Axecuter gravar um disco com versões de bandas de Curitiba das antigas, além do Septic Brain, quais grupos vocês acham que não poderiam faltar?
Difícil escolher, pois são bandas de outros estilos, soaria muito estranho com o Axecuter tocando. Mas com certeza merecem homenagem bandas antigas como Hecatomb, Infernal, Imperious Malevolence, Necrotério, Murder Rape, Aqueronte, Offal, etc.

E para encerrar, indo ao sentido inverso: quais bandas vocês acham que fariam uma cover legal de alguma das músicas do Axecuter?
Eita, eu não tenho a menor ideia [risos]. Mas seria interessante ouvir uma versão de alguma música nossa, quem sabe um dia [risos].

Agradecimento à Patrick Souza, da Sangue Frio Produções.

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