[Cobertura] The Sisters of Mercy pega pouco público em Curitiba, The Secret Society se afirma como grande nome local

The Sisters of Mercy + The Secret Society
Opera de Arame
Curitiba/PR
08 de novembro de 2019

por Clovis Roman

A britânica The Sisters of Mercy é uma referência do Rock Gótico, por mais que eles mesmos não gostem de usar esse rótulo. O grupo, liderado pelo vocalista Andrew Eldritch, lançou apenas três álbuns, sendo o mais recente deles, Vision Thing, de 1990. Sim, há quase 30 anos a banda não tem novos trabalhos de estúdio. Mas seu legado é o suficiente para manter a banda na ativa. Mesmo com sua importância indubitável, o conjunto britânico não conseguiu encher as dependências da Ópera de Arame, um ótimo local para um show desses. O público girou por volta de 600 pessoas, mas esses, ao menos, curtiram bastante o repertório extenso apresentado por Andrew e companhia. Aliás, ótima companhia.

O guitarrista Dylan Smith, novo na banda, substituiu Chris Catalyst, que estava concomitantemente com o Ghost, decidindo se dedicar exclusivamente à essa última há poucos meses.O outro guitarrista do The Sisters of Mercy é Ben Christo, que é o maestro musical da banda em cima do palco. Na abertura, com o megahit “More”, ele, para um desavisado qualquer, parecia ser o líder, pois inclusive cantou partes da música com certa empolgação. Para o público brasileiro, é difícil não ouvi-la sem lembrar de Andre Matos, cantor falecido esse ano, que havia regravado a música no disco Reason, do Shaman, em 2005.

Andrew Eldritch –  The Sisters of Mercy (foto: Clovis Roman)

Andrew, na abertura, se manteve soturno, ao centro do palco, com sua voz cavernosa e pálida, como manda o figurino. Era o que os fãs queriam, inclusive. No decorrer do set, ele se movimentou um tanto, mas de maneira lerda. Era visível, e quase palpável, a má vontade dele em estar ali. Não afetou o show como um todo, mas o cara certamente tá de saco cheio de shows, viagens e tudo relacionado. Interação com o público? Zero.

Completam a formação Ravey Davey, responsável por operar o Doktor Avalanche (a bateria eletrônica), e também o técnico de luz Lee Spiller, que tocava uma keytar. Mas ele não estava posicionado no palco, e sim na chamada ‘house mix’, onde fica a mesa de som e luz, no fundo da casa de shows. Praticamente ninguém viu ele, mas ele estava lá, tocando e operando o sistema de iluminação.

Técnico multiuso – The Sisters of Mercy (foto: Clovis Roman)

Ben, que também toca no Ghost e está no Sisters desde 2006, se destacou em outros momentos, como “Crash And Burn” e “Dominion/Mother Russia”. E toda banda teve seu momento de protagonismo, quando Andrew saiu para fumar e eles tocaram uma – ótima – canção instrumental sem título. A colossal “No Time to Cry” soou opaca em uma interpretação letárgica.

Destacaram-se em um show monocromático, canções como “Better Reptile”, a melodiosa e soturna “Marian” e “Something Fast”, com Dylan empunhando um violão e fazendo bons vocais de apoio. Além, claro, das canções do encore, as inquestionáveis “Lucretia My Reflection” (regravada magistralmente por Warrel Dane), um dos momentos mais tétricos de todo repertório, a fantástica “Vision Thing” e a gigantesca “Temple of Love”, aquela cuja introdução lembra bastante Fear of the Dark, do Iron Maiden. Por fim, “This Corrosion” encerrou o show.

Ben Christo – The Sisters of Mercy (foto: Clovis Roman)

REPERTÓRIO – THE SISTERS OF MERCY
More
Ribbons
Crash and Burn
Doctor Jeep / Detonation Boulevard
No Time to Cry
Alice
Show Me
Dominion/Mother Russia
Marian
Better Reptile
First and Last and Always
Instrumental
Something Fast
I Was Wrong
Flood II

Lucretia My Reflection
Vision Thing
Temple of Love
This Corrosion

The Secret Society
Se para Andrew tudo é um fardo, para o trio formado por Guto Diaz (baixo/vocal), Orlando Custódio (bateria) e Fabiano Cavassin (guitarra) estar em cima do palco é energizante, apaixonante, envolvente. Em cerca de 40 minutos, o The Secret Society apresentou canções que pouco se distanciam da atração principal da noite. Entretanto, todos eles demonstraram o prazer de apresentar suas canções ao público, que começou ressabiado, mas mais para o final já havia se rendido. Comentários diversos daqueles que não os conheciam ainda foram unânimes, em aprovação.

The Secret Society (foto: Clovis Roman)

O setlist deles passeou por músicas mais antigas, como “Beyond the Gates”, “Fields of Glass” e a magnífica “The Architecture of Melancholy”, cujo belíssimo videoclipe é uma das mais belas obras visuais já registradas na cidade. A amargura que essa música carrega é ao mesmo tempo tensa e libertadora. É uma vibrante caminhada em um túnel escuro com odores embolorado, mas de onde é possível vislumbrar uma distante luz. Ela parece catalisar nossa própria dor da existência e expeli-la de maneira a nos aliviar, como um bálsamo, mesmo que paliativamente.

Seguindo com seu repertório, o vocalista Guto explica que a banda lançou seu primeiro álbum, Rites of Fire, e convida a todos a conhecer o trabalho. Aí então vieram músicas como “Rubicon”, “The Final Cut” e a faixa título. O final, um tanto precoce, mostrou que a banda segue a passos firmes para se tornar uma referência definitiva da música criada em nossa cidade. Afinal, além de ótimas canções, todos são músicos experientes – todos eles já tocaram no Primal, banda seminal do Rock/Metal curitibano dos anos 90. Tanto que eles não só tocaram com o The Sisters of Mercy em Curitiba, como os acompanharam em toda a turnê latino-americana dos britânicos.

Guto Diaz – The Secret Society (foto: Clovis Roman)

REPERTÓRIO – THE SECRET SOCIETY
Mephistofaustian Transluciferation
Beyond the Gates
Fields of Glass
Rites of Fire
Mercy
The Final Cut
The Architecture Of Melancholy
Rubicon

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