Acesso Geral – 04

por Clovis Roman

Nesta derradeira edição do Acesso Geral, trago quatro excelentes lançamentos, dos mais variados estilos dentro do rock/metal. A cena brasileira está repleta de gente talentosa e brutal. Basta ter vontade e ir atrás. Vale a pena!

Aztlan – Entrance to Mictlan
Apostando no que chama de pagan death metal, o grupo baiano Aztlan estreia com Entrance to Mictlan, um EP sensacional. A formação da banda conta com Marcello “Paganus” Antunes (baixo/vocais), Mateus Alves (guitarra), Gabriel Mattos (guitarra), Gilmar Vurmun (bateria).

Mictlan é o mais baixo nível do submundo da mitologia asteca, sendo algo similar ao inferno. E é o título da abertura (tirando a intro “Niquitoa”) deste curto EP do Aztlan. A faixa se inicia com bases percussivas, cadenciada e com vocais robóticos que remetem ao Rotting Christ. As influências étnicas aparecem como complemento na estrutura das faixas, prevalecendo o instrumental metálico, calcado no Black, Death e nuances Doom. As partes rápidas, com blast-beats, trazem as melhores interpretações vocais.

Assim como a anterior, “Amongst the Walls of Tenochtitlan” deixa explícita em seu nome o tema da letra. A alcunha se refere a cidade que era a capital asteca – a mesma localidade, hoje, é a capital do México, a Ciudad de Mexico (na língua original). O termo Tenochtitlán significa “gente de Aztlan”, que se relaciona diretamente com o nome da própria banda.

A derradeira, “Blood Offering”, possivelmente retrata os rituais de sacrifício humano da sociedade asteca. Estes ritos eram extremamente comuns naquela cultura, e tinham motivações religiosas. A música, assim como as anteriores, mescla diversos momentos, ritmos e velocidades, e também é extensa, ultrapassando a marca dos seis minutos. Mesmo assim, é a mais curta das três. Os elementos rápidos e brutais permanecem, mas há momentos que sugerem Amon Amarth, pela mescla de melodias acessíveis e vocais agressivos.

Pegue um livro e mande ver neste EP da banda Aztlan. Com temática lírica interessante e um som brutal e muito coeso, o trabalho do conjunto baiano merece uma conferida.

Informações: https://www.facebook.com/aztlanalive

Marenna-Meister – Out of Touch
O excelente vocalista de hard rock Rod Marenna uniu forças com o guitarrista Alex Meister para fazer a banda/projeto, intitulado de maneira pouco criativa de Marenna-Meister. O álbum resultante dessa parceria é Out of Touch, que saiu no final de setembro, que oferece em dez faixas uma viagem no tempo, assim como é o trampo de Rod com o Marenna. Inclusive, há alguns meses recebemos o CD Livin’ No Regrets, cuja resenha você relembra aqui.

A faixa título apresenta uma grande energia, colocando o ouvinte de volta nos anos 1980. Devidamente posicionado, o fã aprecia “The Price of Love”, um hard/pop primoroso, que lembra mais Europe do que Motley Crue, por exemplo. “Gimme All You’ve Got” tem uma virada de bateria como intro que é idêntica a de “Surrender”, do Stryper, um dos grandes ícones da década de ouro do hard/glam. A canção em si, entretanto, lembra mais Petra que Stryper, ficando no terreno cristão das comparações musicais.

A forte “I Don’t Wanna Lose You”, com versos fortes e acento pop na medida, acabou ganhando um videoclipe bem bacana, com proposta simples e edição primorosa. Melodias vocais grudentas surgem sem parar, como “Sleeping with the Enemy”, “Ride, Ride, Ride” ou na pesada e dançante “Dangerous Mind”. Outra empolgante é “Follow Me Up”, que encerra bem um disco homogêneo, que vence por não ter uma única balada! A que mais chega perto disso é “It Ain’t So Easy (Loving You)”, mas não é nenhuma choradeira e sim, um som mais suave com belo trampo de guitarra.

O álbum convence pela maneira sólida de fazer hard rock, tendo os elementos mais festeiros porém sem deixá-los dominar o material. É tudo feito com extremo bom gosto e zero exagero. As música tem em média quatro minutos de duração, mais que suficiente para entregar pérolas com refrãos grudentos e boas melodias vocais. Aliás, o trabalho de Marenna é o grande trunfo em Out of Touch. Se você curte uma farofada, mesmo que moderada, vá atrás agora mesmo.

Informações: https://www.facebook.com/MarennaMeister

As the Palaces Burn – All The Evil
Como você leu aqui nas páginas do Acesso Music há alguns meses, o As The Palaces Burn é uma banda de Criciúma/SC, que estreou muito bem com o debut End’evour, e também manda muito bem ao vivo, como nossa equipe conferiu no majestoso Otacílio Rock Festival, em fevereiro último, na cidade catarinense de Otacílio Costa.

O som mescla muitas influências dentro do metal, principalmente do que foi feito nos anos 1990, indo de Nevermore a Pantera. Como uma sequência natural daquele disco, o grupo solta agora All The Evil, um EP com duas faixas autorais e uma cover. A faixa-título traz um vocal cheio de garra, com passagens velozes baseadas em blast-beats, em um resultado empolgante. São detalhes que agregam ao som da banda uma maior riqueza de detalhes. E estes elementos são bem costurados, sem que vire tudo um ‘samba do branco doido’.

Bem na linha Nevermore, “Nothing Lasts Forever” abre tensa e logo desemboca em um metal moderno, vigoroso e técnico. Há lado a lado uma passagem brutal e um trecho que poderia virar um baião. A cover, que encerra o trabalho, é “Hall of the Mountain King”, bastante fiel à original, exceto pelas linhas de bateria, que destoam bastante da original do Savatage, e estão muito altas.

Conheça mais sobre o trabalho da banda na entrevista que fizemos com eles em agosto último: https://acessomusic.com.br/2020/08/13/entrevista-as-the-palaces-burn/

Informações: www.asthepalacesburn.net

Creptum – VAMA
O Creptum é um grupo de black metal surgido em São Paulo há quase duas décadas, que tinha o nome Nekros e mudou para o atual em 2003. A banda lançou diversas demos, singles e splits, entretanto, VAMA é apenas seu segundo álbum completo. A produção simples mas coesa evoca os primórdios gélidos do estilo, entretanto, permitindo que tudo seja ouvido da maneira apropriada. De que adianta fazer música extrema se a gente não consegue entender o que está sendo tocado? O Creptum entende a importância disto e fez um ótimo trabalho no quesito sonoro. O disco de estreia tinha uma boa qualidade, mas aqui alguns detalhes foram aprimorados.

As composições mostram um black metal simples, quase minimalista, mas que volta e meia recorre a algumas passagens mais trampadas, outras cadenciadas, e com camadas de teclado, que servem como complemento para a aura macabra do trabalho. A música “The Moon Above” chega a lembrar estruturas abordadas pelo Marduk no La Grande Danse Macabre; seu andamento moderado e pesado flerta com o heavy. Liricamente, a banda passou daquele satanismo básico para algo mais voltado ao ocultismo e literatura em geral.

As composições são em sua maioria curtas, rondando entre os quatro e cinco minutos de duração, portanto, nenhuma delas ultrapassa os limites do aceitável. As nove faixas apresentam coesão e um esmero que não significa necessariamente que as músicas estão polidas demais. As arestas ásperas do estilo continuam incômodas. A capa traz uma arte bastante artística, fugindo dos clichês do estilo.

O meio black metal é repleto de bandas insuportáveis, rasteiras, desinteressantes, onde a imagem e postura é colocada como prioridade, em detrimento a música em si. Esta característica do estilo amplifica ainda mais a qualidade do trabalho da Creptum. VAMA é recomendado aos fãs do estilo e a aqueles que gostam de música agressiva e inteligível. Impressionante.

Informações: https://www.facebook.com/creptum
https://creptum.com/